Ferramenta é ideal para pulverizações em áreas com declives mais acentuados ou com elevado índice de resíduos, mas requer cuidados específicos
Ao menos 84% dos agricultores brasileiros já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio na produção, indicou pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgada em agosto de 2020. Essas tecnologias vão da Internet a softwares de agricultura de precisão, passando por aplicativos desenvolvidos para smartphones e veículos aéreos não tripulados (Vant), os populares drones, cujo mercado global chegou a US$ 32,4 bilhões entre 2016 e 2020.
Na silvicultura, Pablo Thiel Della Cruz, coordenador técnico da Combate Serviços Florestais, do Grupo AF, afirma que os drones são ferramentas tecnológicas que chegaram para ficar. Mas para que o equipamento possa ser utilizado de forma efetiva no setor de florestas plantadas, sua introdução precisa ser gradativa, testada, aperfeiçoada, adequada às distintas variáveis e, por fim, aprovada, para garantir os melhores resultados.
“Os resultados técnicos e a viabilidade econômica devem ser bem mensurados, para que não se criem barreiras, empecilhos e paradigmas que a longo prazo possam impossibilitar a ampliação e até mesmo criação de novas técnicas”, comenta Pablo.
O especialista explica que para pulverizações em áreas com declives mais acentuados ou com elevado índice de resíduos, o drone se mostra um instrumento de fundamental importância para incrementar a produtividade, minimizar riscos à segurança da equipe e promover uma menor incidência de problemas mecânicos.
Em áreas mais planas, contudo, com melhores rendimentos com aplicação mecânica, as atividades mecanizadas e manuais seguem como melhor alternativa. Nessas áreas, o uso de Vants se coloca mais como um diferencial técnico, voltados a aplicações específicas, que exigem um maior conhecimento e experiência, como o controle de brotação.
“Cabe ao gestor da área avaliar em quais situações o uso de cada tecnologia vai alcançar sua maior potencialidade de eficiência técnica, rendimento operacional, baixo risco laboral e ambiental e melhor custo de implantação”, acrescenta.
Empresa especializada no controle mecanizado de formigas cortadeiras em florestas plantadas, a Combate passou dois anos acompanhando operações com drones no Chile e no Uruguai antes de começar a utilizar a ferramenta em seus trabalhos, em 2021. Dessa forma, a companhia conseguiu atingir uma maturidade técnica, operacional e de custos ideal para atender à demanda florestal brasileira.
“É fácil comprar um drone e sair aplicando, mas ser tecnicamente eficiente, atendendo às necessidades do cliente com uma operação viável e de longo ciclo, é mais complicado. Muitas empresas vêm da área agrícola e não conseguem ter viabilidade econômica na área florestal, pelas diferentes características das aplicações”, pontua Flávio Herter, também da Combate Serviços Florestais.
Na companhia, o drone chegou como mais uma opção de aplicação de produtos sólidos e líquidos em áreas de dificuldade operacional para um trator ou até mesmo em espaços onde o desempenho operacional é superior, mantendo a qualidade da aplicação. Além disso, a ferramenta também gera dados operacionais e mapas de aplicação para a companhia, que analisa os resultados para verificar de que forma é possível evoluir nas estratégias.PROPAGANDA
Territory Account Manager da Corteva, Thais Lopes reforça a necessidade de se ter um profissional habilitado para operar o equipamento, além de conhecimento sobre as tecnologias de aplicação e produtos.
“Além disso, quando se trata de reflorestamentos, nem todas as áreas são aptas para esse tipo de aplicação, já que as mais indicadas são as de reforma e implantação. Deve-se, portanto, levar em consideração os recursos disponíveis, a tecnologia de aplicação específica de cada produto a ser aplicado e a questão regulatória sobre a possibilidade de realização da aplicação do produto nessa modalidade, bem como a área que deseja manejar, já que para controle em sub-bosque de florestas adultas, no caso de matocompetição, a aplicação terrestre tratorizada seria a mais adequada”, completa.
Vantagens
José Baptista, coordenador de Silvicultura da CMPC Celulose Riograndense, foi um dos percursores no uso de drones na silvicultura no Brasil. Hoje, a empresa utiliza a ferramenta no regime operacional do manejo florestal. Desde o início do projeto, cujos testes começaram em agosto de 2018, mais de 5 mil hectares já foram pulverizados com o auxílio do equipamento.
Segundo Baptista, em comparação com os processos tradicionais, os drones têm a vantagem de promover uma aplicação aérea de produtos, além de suas pulverizações serem mais precisas e seguras do que as da aviação agrícola habitual. Já em comparação com a atividade manual, verifica-se um aumento significativo em qualidade e redução de custos com mão de obra e estrutura de aplicação.
“No processo de pulverização, podem ser usados tratores ou drones. A escolha do melhor equipamento vai depender muito do tamanho e relevo do talhão, quantidade de resíduos e tamanho de tocos. As faixas de aplicação tratorizadas são superiores se comparadas com às dos drones atuais, então ainda são competitivas em preços. A decisão do investimento passa por essas variáveis, além do uso ao longo do ano ou da safra”, afirma.
Como principal desafio atual para o uso de drones na silvicultura, Baptista aponta a barreira da importação de peças, cotadas em dólar. Aos poucos, contudo, os fabricantes estrangeiros, a maioria chineses, estão conhecendo o potencial brasileiro.
“A prática de pulverização com drones é ainda bem recente na agricultura, mas está aumentando velozmente, especialmente nas culturas de cana-de-açúcar e banana. O mercado de prestação de serviços ainda é pequeno, mas está se estruturando”, diz.
Rebrota do eucalipto
Os drones também podem ser aliados no processo de rebrota do eucalipto, uma das árvores mais utilizadas para fins industriais no Brasil, com usos que vão da produção de papel e celulose à indústria têxtil, passando pelo segmento farmacêutico e energético, para citar alguns.
Com uma bagagem de mais de 20 anos de atuação em pulverizações e mais de dois anos atuando com controle de brotação de eucaliptos com uso de drones no Chile, a Combate está importando esse know-how para o Brasil e vem se preparando há mais de um ano com testes, ajustes e operações para demonstrar que a técnica tem resultados muito viáveis.
“Como primeiro passo, a área a ser aplicada é fotografada com drone. Em seguida, as fotos são processadas com um software específico, a fim de definir as áreas precisas de aplicação, os pontos de carregamento e as missões de voo dos drones que farão o tratamento com herbicida. É importante notar que a precisão da aplicação é centimétrica”, pontua Francisco Garcia, diretor de Marketing e Novos Negócios da AF Chile S.A.
O principal cuidado que deve ser tomado nas aplicações com drones diz respeito à revisão das áreas que serão alvo do processo, a fim de detectar os setores que não devem ser atingidos, como mata nativa, cursos d’água e outras culturas. Isso é feito, basicamente, com a revisão e análise das imagens processadas e com a revisão in loco de todas as situações que suscitem algum tipo de dúvida.
“No processo de decisão, também é importante considerar as opções com registro para essa finalidade e moléculas adequadas aos materiais clonais em questão. Sob a ótica da aplicação via drone, ainda buscar informações regulatórias sobre o registro dos produtos e verificar se estão aptos para este tipo de aplicação”, finaliza Thais Lopes, da Corteva.
Foto: Divulgação