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Tendências para a floresta: mudanças e análises na visão dos CEOs para o crescimento do setor

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Ao invés da tradicional retrospectiva, nesta edição a B.Forest conversou com CEOs e diretores do setor florestal e também do agronegócio para abordar as tendências para o setor. 2021 foi um ano desafiador, ainda com muitas restrições devido à pandemia causada pelo novo coronavírus, por isso o olhar está fixo no futuro, em como atender com sustentabilidade um mercado que está em franco crescimento.

Mudanças de comportamento das companhias já podem ser sentidas. Segundo Caio Zanardo, CEO da Veracel Celulose, além dos planejamentos estratégicos pautados para os próximos 5 anos, as empresas cuidam de cada novo passo. Para ele é um movimento natural, tendo em vista a dinâmica acelerada de mudanças, sejam tecnologias, sejam comportamentais – de gestão e de consumidor.

Este é o momento de lidar com um ambiente incerto, não adianta somente imaginar. “O que temos é uma aspiração de futuro, se sabe onde quer ir, tem um norte, mas acho que ao longo dessa jornada é preciso ir regulando as velas conforme o vento que vai acontecendo. Dar passos pequenos, mas constantes, me parece que é o novo momento, não só do setor, mas do mundo, como um todo”, disse Caio.

O setor caminha para a digitalização. Há poucos anos, se coletavam dados por amostragem de máquinas de colheita, para se estimar o volume colhido. Hoje os sensores embarcados dão a visão real de cada metro cúbico retirado do solo e drones sobrevoam pátios de madeira e dão precisão de mais de 90% na quantidade disponível para a indústria. A era dos dados já chegou e muitos desses pequenos passos citados por Caio Zanardo somente são possíveis porque temos uma atualização diária da produtividade de cada metro quadrado plantado.

Talvez o que ainda irá se desenvolver mais nesse sentido são os tratos silviculturais, que ainda são essencialmente manuais. Empresas especializadas pensam em alternativas e mecanização para o trabalho em escala e ganho em produção.

“A silvicultura tem um potencial bastante grande, mas a gente ainda esbarra na conexão. É uma barreira a se ultrapassar, mas ela também não limita completamente, porque existem informações que, sim, são úteis para gente utilizar on-line, no momento em que acontece, mas muitas das demais podem ser com um dia, dois ou três dias, que ainda têm potencial enorme de a gente fazer correções de rota, ver a realidade ou entender um pouquinho melhor o que está acontecendo naquela operação”, destacou Fabiano Rodrigues, Diretor Florestal e Compras da Sylvamo.

Fabiano citou um vetor importante para a tecnologia 4.0 aplicada ao ambiente florestal: a conexão. A grande promessa da conectividade 5G pode trazer importantes revoluções para o escritório, na gestão das florestas, mas também para o campo. Mesmo que no primeiro momento a instalação não chegue às áreas mais remotas, uma rede da quinta geração, além de transmitir os dados do campo para o escritório, vai permitir informações do outro lado, do escritório para o campo, acelerando e efetivando a interatividade desses dois ambientes florestais. “Aí é que se faz necessário parcerias com quem está pensando à frente, com as startups, com as nossas equipes internas que estão trabalhando com tecnologia para pensar em alternativas de o que podemos tirar de proveito dessa inversão, desse fluxo de informação”, apontou.

MUDANÇAS À VISTA

A evolução da conectividade, da tecnologia traz consigo a mudança de comportamento do público. Seja ele consumidor, fornecedor, comunidade, etc. É evidente uma busca acelerada por produtos e serviços sustentáveis. Além do emprego, o que mais uma empresa pode fazer por aqueles que estão à sua volta?

Essa nova configuração escancara as vertentes do ESG, sigla em inglês para o olhar tridimensional de uma empresa para questões ambientais, sociais e de governança.

Historicamente, o setor de árvores plantadas precisou provar que seu manejo é sustentável e que, ao contrário do cenário de décadas atrás, um empreendimento de bilhões de reais, não vai mudar para outro local, como acontecia com as serrarias. “O que acontece agora é que passamos a ser vitrine, porque temos muita coisa boa para mostrar. Ela nos dá uma responsabilidade muito grande, evidenciar que atuamos de fato, mostrarmos que dá para fazer e puxar outros setores que, até então, não precisavam de fato mostrar essa sustentabilidade. Então, por que não nos unirmos com outros setores e fazer de fato com que nossa experiência e vivência possa ser levada para restaurações florestais em outras áreas do agronegócio?”, opinou Caio Zanardo.

Aliás, além de traduzir sustentabilidade em árvores plantadas, é possível mostrar que se ganha dinheiro preservando florestas nativas, não só em produtividade no manejo em mosaico e menor impacto ambiental e climático, mas também na captura de carbono da atmosfera. Na fotossíntese, as folhas das árvores capturam gás carbônico da atmosfera e acumulam o carbono, liberando oxigênio. Esse carbono acumulado por anos e anos nas árvores deixam de poluir e assim contribui para evitar o aquecimento global.

Durante a COP26, realizada em Glasgow, no mês de novembro deste ano, foi aprovado o mercado internacional regulado de carbono. A expectativa de atuação das empresas florestais nesse setor é extremamente alta. Ou seja, mais uma mudança é iminente: haverá rentabilidade em serviços ecossistêmicos, para auxiliar no combate ao aquecimento global.

Bastante discutida e interligada com a geração de créditos de carbono e preservação das florestas, estão os investimentos externos em terras brasileiras. Na opinião de Miguel Fabra, gerente de investimentos da Stafford Capital Partners, o Brasil é o primeiro país do mundo, seguido de Colômbia e Indonésia, em potencial de recuperação de áreas degradadas. “São milhões de hectares, e assim que tiver uma legislação nacional que permita o investimento estrangeiro para restaurar, será uma relação ganha-ganha como país e ainda ter milhões de hectares disponíveis para sequestrar o carbono”, disse Miguel.

OUTRO OLHAR

Contribuindo para essa visão sistêmica da floresta e todos os produtos e serviços ambientais que ela é responsável, André Guillaumon, CEO da BrasilAgro, diz que é necessário o setor agro interagir para crescerem juntos. “Parte da solução da cadeia pecuária passa pela indústria florestal, a Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF), que é a tradução da agricultura de baixo carbono, da qual se fala tanto, é um exemplo de cooperação. De um lado, o setor florestal demandando por áreas de madeira, do outro, um setor pecuário necessitando de um produto que extraia metano da atmosfera. Ora, a floresta é um veículo para essa união”, disse.

Marcelo Sales, diretor presidente da Copa Investimentos ainda complementa que é preciso ter um olhar mais integral da árvore e perceber que nela pode haver diferentes produtos, de acordo com a largura da tora. “Adoraria que todos os projetos florestais tivessem não um comprador, mas uma série de compradores em que você vende uma parte da floresta para uma indústria, outra parte para outra e a fibra você vende para até diversas outras indústrias que usam madeira para processo, entre outros fins”, concluiu Marcelo.

Foto: Laerte Soares – Águia Florestal