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Sócio-fundador da Braspine e Braslumber fala sobre mercado, futuro e sustentabilidade da madeira

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A Revista B.Forest publicou, em sua nova edição, uma entrevista exclusiva com o sócio-fundador das empresas associadas à Apre Braspine e Braslumber, Armando Giacomet, que falou sobre o mercado de madeira. Segundo ele, o futuro caminha para a valorização da floresta plantada e é preciso um incremento dos ativos florestais para o futuro sustentável do mercado.

1. Conta para nós um pouco da sua trajetória profissional. Quando você iniciou no mercado de madeira e quais os principais desafios que encontrou?

Posso dizer que sou nascido na indústria da madeira, em Bom Jesus (RS), onde meu pai gerenciava a serraria da Madeireira Giacomet, voltada à produção de madeira de pinheiro (Araucária).

Iniciei minha atividade profissional na Giacomet-Marodin (hoje Araupel), em 1978, aos 18 anos, e por 17 anos lá trabalhei, totalmente focado na atividade comercial de mercado interno, para todo o Brasil. No início, exclusivamente o pinho, depois madeiras folhosas e, finalmente, entramos no ciclo do pinus, na medida em que este mercado se desenvolvia e as demais espécies tinham suas extrações proibidas.

Em 1995, parti para uma carreira solo na comercialização de madeiras duras para pisos, agora voltadas ao mercado Europeu. Ao mesmo tempo em que implementava esta operação, fiz um mapeamento das potencialidades de madeiras de pinus, então crescente, em especial no Sul do Brasil.

2. Sobre a BrasPine e Braslumber, quando as empresas iniciaram no mercado e qual a rajetória até hoje?

No início de 1997 iniciamos a implantação da primeira unidade industrial, a BrasPine Madeiras Ltda, localizada na cidade de Jaguariaíva, em parceria com a então Pisa Papel de Imprensa S/A.

Encontramos nessa relação muitas sinergias. Para nós, um fornecedor sólido e confiável, com grandes volumes de floresta. E, para a Pisa, um cliente capaz de absorver volumes importantes e crescentes para produtos de alto valor agregado, o que certamente lhe permitiu agregar valor à floresta, até então bastante subavaliada e também previa a implantação de equipamentos adequados para a produção e retorno do cavaco limpo de pinus.

Após mais de um ano de discussões e negociações, no fim de 1996, concluímos este contrato de parceria e cooperação de longo prazo e, em agosto de 1997, partimos com o primeiro estágio de nossa indústria, produzindo clear blocks para a exportação ao mercado norte-americano. Passamos por diversos estágios de ampliação, tanto em nível de volume quanto na verticalização de produtos.

Ao longo dos anos seguintes, deixamos de ser fornecedores de indústrias norte-americanas, mas passamos a fazer produtos acabados de fingerjoint, como molduras, componentes de portas e janelas, boards e painéis de pinus.

Seis anos depois surgiu a oportunidade de outra implantação, agora em parceria com a Klabin, na cidade de Telêmaco Borba. Da mesma forma, nos assegurava um fornecimento e garantia a eles de uma maior valorização do produto florestal, bem como seu incremento de volume. E, além disso, o vínculo de retorno do cavaco de processo. Da mesma forma que a BrasPine, a Braslumber também tinha estágios de ampliação de volumes e diversificação de produtos e mercados.

Hoje, estas duas empresas juntas geram 2.500 empregos diretos em nossas comunidades e pelo menos 1.000 em atividades complementares, prestadores de serviço, transportadores, restaurantes etc.

3. Falando do mercado de madeira, é notada a valorização da matéria-prima nos últimos anos. Como a indústria tem trabalhado com esse incremento?

Houve uma valorização tremenda nos ativos florestais ao longo das duas últimas décadas e muitos produtos que eram tradicionais no passado hoje já são absolutamente inviáveis de serem produzidos em madeira, como embalagens de frutas, pré-cortados de móveis, pallets, entre outros.

É permanente a preocupação da indústria com este incremento de custos. Existe um trabalho muito focado na maximização dos aproveitamentos industriais, revisão de conceitos produtivos, automação, economia de escala, novos produtos de maior valor agregado, etc.

Tivemos, ao longo do segundo semestre de 2020, e em especial no primeiro semestre de 2021, uma explosão “irracional e insustentável” de preços e uma consequente aceleração nos preços da madeira. Soma-se a isso os múltiplos reajustes de tarifas de frete aplicados, em especial para os Estados Unidos, com altas de até quatro a cinco vezes o valor dos fretes marítimos praticados no início deste ano.

O somatório destes dois componentes poderá tornar mais alguma gama de produtos inviáveis e tirará o Brasil do mapa de fornecedor grande e confiável. Este é um grande risco, que me parece, não deveríamos correr.

4. Na sua opinião como é a demanda por produtos madeireiros? Ela deve crescer nos próximos anos? Teremos novos produtos feitos a partir da madeira?

Creio existir, em nível mundial, uma tendência ao crescimento pela demanda de produtos de madeira. Toda essa preocupação com a sustentabilidade do planeta está intimamente ligada à utilização de madeira.

Salvo algumas iniciativas isoladas de produção de casas de madeira, este hábito ficou no século passado em termos de Brasil. Casas carbono zero… seria um sonho? Alumínio, aço, plástico, cimento… são todos elementos altamente demandantes de energia e/ou poluição e esgotáveis a longo prazo. A madeira, me parece, vai sim reconquistar muitos espaços perdidos ao longo dos séculos na sua função térmica e acústica, com a grande vantagem de ser um depósito de carbono renovável!

5. Qual o principal desafio da indústria para atender essa demanda?

Assim como foi na agricultura, o Brasil precisa utilizar este potencial fantástico de terras e clima, e será um dos maiores players mundiais da indústria madeireira. Apenas agora, estamos chegando a cobrir 1% de nossa área total com florestas plantadas. O Chile, nosso maior concorrente, tem cerca de 4% de seu território plantado. A Nova Zelândia tem mais de 7% e a Alemanha tem cerca de 15% de sua área com florestas plantadas.

Imagina termos não 9 milhões de hectares (1%), mas termos mais de 30 milhões, o que equivaleria aos quase 4% do Chile, ou 60 milhões, correspondentes aos 7% da Nova Zelândia?

Repito, o primeiro passo é termos a disponibilidade florestal e isso não será difícil de ser alcançado assim que as pessoas entenderem de forma muito transparente o resultado que uma área florestal gera de valor a uma propriedade. É agregação de valor puro!

Precisamos, sem dúvida, do envolvimento direto das empresas vinculadas ao segmento, das secretarias de agricultura dos estados (em especial os estados do sul, cuja cultura florestal do pinus já está bem consolidada) e uma criação de política pública para o segmento, que poderia ser alicerçada junto ao trabalho maravilhoso já desenvolvido pela Embrapa na agricultura.

6. Para o futuro, qual a sua opinião sobre a atuação da indústria madeireira para a construção de um mundo sustentável?

A madeira é por essência um produto sustentável, renovável e com ganhos de produtividade, à medida que se planta uma nova geração de florestas. A madeira é sustentável por natureza!

Foto: Armando Giacomet (imagem publicada na revista B.Forest – edição Setembro/Outubro 2021)