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Setor florestal paranaense atua preventivamente para evitar incêndios florestais

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O Brasil enfrenta uma das piores crises hídricas da história. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, de setembro de 2020 a maio deste ano, o volume dos rios pelo país chegou ao nível mais baixo dos últimos 91 anos, e os dados apontam que, até 2022, esse cenário deve continuar, principalmente na região central do Brasil, que engloba Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e São Paulo. O alerta foi feito por quatro entidades que monitoram o clima, entre elas o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo a Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre), o cenário exige ainda mais ações de prevenção e combate, principalmente porque dados divulgados pelo Inpe apontaram que, em 2020, os focos de incêndio aumentaram 12,73% com relação a 2019, atingindo o índice mais alto nos últimos dez anos.

Além de comprometer a biodiversidade das florestas nativas, os incêndios são uma grande ameaça às empresas de base florestal. Segundo o Grupo Index, associado à Apre, a perda financeira devido a incêndios em florestas de eucalipto apenas no Mato Grosso do Sul, no ano passado, foi superior a R$ 1 bilhão. Por conta dessa situação crítica com a crise hídrica, aliada ao período de seca, que costuma ser de maio a setembro, o setor florestal paranaense vem se movimentando ao longo do ano, pois o clima mais seco aumenta o risco de incêndios.

De acordo com o engenheiro florestal e presidente da entidade, Álvaro Scheffer Junior, as empresas do setor florestal paranaense se antecipam ao problema, justamente porque se o incêndio chega a uma área com árvores, o fogo se espalha rapidamente, pela quantidade de material seco existente na floresta. Dessa forma, é fundamental haver um trabalho para prevenir, combater e controlar, para garantir a segurança das plantações e da comunidade no entorno e evitar perdas significativas.

“O clima bem definido do Paraná ajuda o setor florestal nesses cuidados que são feitos o ano inteiro. Percebemos que os últimos anos têm sido atípicos, principalmente 2020 e 2021, o que exigiu ainda mais atenção, mas as empresas já vêm fazendo, há bastante tempo, manejo com fogo e limpeza de divisas, antecipando-se a uma possível ocorrência durante ou após o inverno, períodos em que trabalhamos com geada e dessecação do mato. Isso quer dizer que a prevenção de incêndios já faz parte do calendário das empresas”, garante.

Ainda segundo Scheffer Junior, no Paraná, a ocorrência de incêndios em florestas é baixa, mérito que ele atribui às ações das companhias, que realizam monitoramento com torres de incêndio e equipe de campo, além de treinamentos para garantir também a segurança dos funcionários. De acordo com um levantamento realizado anualmente pela Apre, todas as associadas contam com programa de prevenção e combate a incêndios, que inclui torres de incêndio, pessoas treinadas, brigadistas, veículos e caminhões, bem como centenas de equipamentos, como pinga-fogo, bombas costais, abafadores, enxadas, cantis, lanternas, rastelos, machados, facões, motosserra, skidder, pás, chibancas, motoniveladoras, retroescavadeiras, tanques, suporte de veículos com reservatório de água e drones. Toda essa preparação garante uma ação rápida e mais segura aos profissionais e às áreas florestais.

Além de estar bem preparado, o presidente da Apre avalia também que outro diferencial do setor florestal é a boa interação com a comunidade do entorno. “As associadas à Apre têm um canal de comunicação muito importante com a população ao redor, e a maior parte dos avisos de incêndios não são feitos pelos funcionários, mas pela própria comunidade. Isso é ótimo, pois o setor é visto como um segmento que preserva, que cuida, que atende e que ajuda tanto a comunidade como o meio ambiente”, reforça.

Outro ponto importante citado pelo engenheiro florestal é a rede de contatos e a ajuda entre as diversas empresas do Estado. A Apre atualiza, anualmente, as informações dos contatos dos responsáveis pelo controle, combate e prevenção de incêndios florestais das companhias associadas, gerando, assim, um mapa, que é compartilhado entre as empresas. Ele reforça que essa interação é muito positiva. Mas além do trabalho “de casa”, o presidente da Associação destaca que as empresas florestais colaboram também em áreas públicas, como parques nacionais e áreas de preservação. Um exemplo é o Parque Estadual de Vila Velha, em Ponta Grossa. Por concentrar uma área nativa, há a necessidade de se realizar o manejo com fogo para se renovar a vegetação. O governo do Estado coordena o trabalho, mas convida as empresas do setor para controlar a ação do início ao fim, justamente pelo conhecimento que têm com as brigadas de incêndio e a mão de obra especializada.

Trabalho contínuo

As empresas associadas à Apre destacam que contam com plano de emergência para o período de risco, aquele com menos chuvas, mas o monitoramento acontece o ano inteiro, pois há o perigo de o vizinho da área ou o confrontante realizarem algum tipo de queimada, o que pode causar incêndio, até por conta do vento.

Na WestRock, por exemplo, com o objetivo de conscientizar a comunidade sobre a importância da colaboração para evitar ou minimizar estragos causados pelo fogo, a empresa realiza, anualmente, campanhas de divulgação. Antes de iniciar a colheita em uma determinada fazenda, por exemplo, os profissionais se reúnem com os moradores do entorno para repassar informações sobre o funcionamento das atividades e instruções de segurança.

O programa de combate a incêndios da WestRock baseia-se no monitoramento constante; equipe de brigada constituída e treinada para o atendimento de incêndios e primeiros socorros, bem como equipamentos e estrutura de combate adequadas – sete torres de monitoramento, sendo que cinco delas são equipadas com câmeras PTZ para identificação de fumaças, software específico para identificar pontos de fumaça, equipe de vigilância patrimonial para identificação de possíveis focos de incêndios, por meio da utilização de drones, três caminhões de combate a incêndio, kit pick-up, bombas costais, sopradores e demais equipamentos manuais para o combate a incêndio, linha 0800, bem como materiais e campanhas educativas internas e externas. Na avaliação da empresa, “a comunicação frequente e consistente, que prima pelo bom relacionamento com a comunidade do entorno e as lideranças locais, é um dos instrumentos mais valiosos para a prevenção”.

O mesmo acontece na Klabin, de acordo com Luís Augusto de Saldanha, gerente de Silvicultura da companhia. A empresa mantém em seu planejamento estratégico atualização constante de novas tecnologias de identificação de focos e controle de incêndios. Hoje, os dados meteorológicos são inseridos na Fórmula de Monte Alegre (FMA) e indicam a classe de risco de incêndio durante o dia, o que auxilia na estratégia de prevenção, bem como na logística e distribuição das brigadas. Também faz parte da rotina da companhia treinamentos atualizados, com a realização de simulados para teste de tempo de resposta adequados, e distribuição as brigadas nas regiões de atuação conforme a classe de risco. Vale destacar, ainda, que a atuação das equipes de combate da Klabin acontece durante toda a semana, incluindo fins de semana e feriados, e uma central de controle fica disponível 24 horas por dia para atendimento dos chamados e acionamento das brigadas.

Com relação às estruturas necessárias, são 21 torres de vigilância, sistema de rádio, caminhões específicos para combate, ferramentas, câmeras e um serviço aéreo por demanda que conta com 2 helicópteros para atendimento em situações determinadas. No Paraná, a empresa possui mais de 500 brigadistas treinados, incluindo equipes de bombeiros, que giram em pontos focais da região em períodos alternados, e aproximadamente 65 vigilantes, que percorrem diariamente todas as áreas da empresa, monitorando as regiões para que as informações cheguem o mais rápido possível e as devidas medidas de prevenção sejam adotadas.

“A Klabin mantém um forte relacionamento com as comunidades no seu entorno. Na região dos Campos Gerais, desenvolvemos boa parte dos programas socioambientais, nos quais temos a oportunidade de divulgar nosso compromisso com prevenção e combate a incêndios florestais. Informamos os riscos envolvidos e a importância de conhecer melhor os vizinhos e as propriedades rurais confrontantes para trabalhar em conjunto na prevenção e no controle de incêndios. A central da empresa (0800) é divulgada, bem como os contatos da coordenação e líderes da proteção patrimonial florestal, o que facilita e melhora a comunicação”, garante Luís Augusto de Saldanha.

Na Berneck, de acordo com Camila Zanon, analista de Segurança do Trabalho, como as áreas têm muitos vizinhos e confrontantes, a companhia busca ter contato direto com os envolvidos como forma de prevenção. Anualmente, a empresa realiza um calendário de ações e atualiza seus principais telefones para distribuir na comunidade do entorno. A portaria também é treinada para saber o que fazer se receber algum relato de incêndio. Segundo Camila, o foco da empresa é atuar preventivamente.

“Mantemos contato com vizinhos, treinamos colaboradores, destacamos os riscos, explicamos o que fazer em caso de incêndio. Também fazemos ronda de vigilância e preparamos aceiros (espaço de isolamento entre vegetações que evita a passagem do fogo). Além disso, cada área florestal tem um kit. De dois em dois meses, fazemos um checklist e testamos os equipamentos, para não termos surpresas quando precisarmos. Todos os envolvidos são treinados, tanto na teoria, quanto na prática. Nosso objetivo é abrir esse treinamento também para a comunidade. Com esse trabalho de prevenção, que envolve empresa, população e bombeiros, conseguimos evitar os incêndios ou agir logo no começo, evitando que o fogo se alastre”, completa.

Tecnologia

Também para ajudar as empresas neste trabalho de prevenção, o Grupo Index trouxe ao Brasil a tecnologia Flareless, software desenvolvido pela Quiron Agrodigital, empresa de monitoramento via satélite de ameaças florestais, que identifica pontos de riscos de incêndios florestais. A ferramenta utiliza inteligência artificial, processamento dos dados e parâmetros, como análise da vegetação, variáveis geográficas, climáticas e locais. Assim, o volume de dados permite a criação de um mapa de risco de incêndio de alta resolução especial e de sensibilidade às características de cada lugar analisado.

Como exemplo prático da precisão da plataforma, o sistema calculou pontos de alerta em locais mais críticos ao risco de incêndio em uma região de Belmonte, em Portugal. Do identificado, 90% coincidiram com regiões onde realmente ocorreram incêndios florestais. A confirmação dessas áreas foi feita a partir de trabalho em campo e o uso de índices de área queimada. Segundo Marcelo Schmid, sócio-diretor do Grupo Index, “a intenção é permitir que seja possível trabalhar com o nível mais alto e preciso de segurança e prevenção que a tecnologia atual nos permite”.

Dicas de prevenção

Apesar de o setor florestal fazer sua parte o ano inteiro, a conscientização da população é fundamental para que o trabalho de prevenção dê certo. Por isso, a Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre) está lançando a campanha “Prevenção a incêndios: uma floresta segura depende de todos nós”, com alertas e informações para sensibilizar os paranaenses. A primeira ação é o lançamento do vídeo, que está no canal da Apre no Youtube (https://youtu.be/kUGkkUZoen8) e será disponibilizado também nas redes sociais da Associação. Além disso, estão previstos posts informativos no Instagram, Facebook, LinkedIn e WhatsApp, para aumentar o alcance e a conscientização.

Confira abaixo algumas dicas da Apre e suas associadas para garantir a segurança das florestas, do meio ambiente e das comunidades:

– Não jogue lixo na beira das rodovias;

– Não queime lixo, destine-o para locais de coleta e reciclagem;

– Não acenda fogueira perto das árvores;

– Não fume próximo ou dentro de áreas com plantações, florestas e matos;

– Não solte balões – lembre-se que a prática é proibida e traz muitos riscos;

– Mantenha equipamentos de segurança em perfeito estado;

– Saiba os contatos para emergência da sua região;

– Lembre-se que o número 193 aciona o Corpo de Bombeiros da sua cidade;

– Ajude na divulgação de informações de combate e prevenção;

– Faça sua parte. Uma floresta segura depende de todos nós!