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Resistência de plantas daninhas a herbicidas é tema preocupante para o setor produtivo

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A resistência de plantas daninhas a herbicidas é um tema importante e desafiador para todo o setor produtivo, além do florestal. Isso porque, após décadas utilizando as bases químicas existentes para controle de plantas indesejáveis, a maioria dos produtores tem se deparado com este problema crescente em suas áreas de plantio. O professor Artur Arrobas Martins Barroso, do Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade da Universidade Federal do Paraná, especialista em resistência a herbicidas, conversou sobre esse tema no 7º Workshop Embrapa Florestas/Apre. Esta abordagem integrou as discussões sobre os Efeitos da Matocompetição e a interação com as pragas na floresta, realizadas no dia 22.

Segundo a definição, resistência é a característica adquirida e herdável de uma população em sobreviver e se reproduzir quando exposta a determinada dose de um herbicida, que seria suficiente para controle da população suscetível. De acordo com Barroso, mundialmente, há um grande aumento do número de casos, que cresce a cada mês. Desde 1970 até hoje, há 514 casos de resistência de plantas daninhas no mundo, envolvendo 262 espécies, que são resistentes a 167 herbicidas. “Vários herbicidas vêm, portanto, aumentando a dose para controle de determinadas espécies, saltando a recomendação de uso de 0,5 litro para 1,5 litro, até 3 litros por hectares de contato herbicida/planta”, diz o pesquisador.

O Brasil é o quinto país no mundo com mais casos de resistência, principalmente aos inibidores da ALS e da EPSPS (glifosato) e da ACCase (os graminicidas), compostos comumente usados na agricultura. Há, atualmente, 10 espécies com resistência ao glifosato (buva, azevém, capim-branco e caruru). “Essa resistência está ocorrendo, por mais que a gente não observe, por isso, é importante realizar um passo anterior ao controle, que é a identificação e a confirmação deste problema no campo”, alerta Barroso.
Após a aplicação do herbicida, deve-se observar as plantas indesejáveis que permaneceram vivas. “Para se fazer o `tira-teima´ é importante coletar a semente das plantas que sobreviveram à aplicação do herbicida, plantá-la, e quando formar a plântula, com quatro a seis folhas, reaplicar o produto na dose recomendada. Se a planta sobreviver e for capaz de produzir novas sementes, aí, sim, é o caso de resistência a herbicidas”, aponta Barroso.

Resistência Cruzada e Múltipla
Estudos mostram que há níveis mais preocupantes de resistência, como a “cruzada”, em que a planta daninha resiste a mais de um tipo de herbicida, ou seja, sobrevive a mais de um grupo químico. Há também a resistência múltipla, considerada uma situação ainda pior para manejar. Isto porque a planta resiste a herbicidas de diferentes mecanismos de ação, e faz com que se percam os mecanismos de manejo e de rotação ao longo do tempo. Segundo o professor, já há casos de plantas daninhas que possuem resistência a sete distintos mecanismos de ação, como o azevém, na Austrália. No Brasil, também já foi constatada a resistência de uma planta de buva a cinco mecanismos de ação.

Medidas de controle
Para perceber se está havendo a falha no controle das plantas indesejadas, é importante, com a ida a campo, observar com detalhe a evolução das plantas, se apareceu uma planta daninha nova, e se alguma indesejável sobreviveu. “É fundamental observar vários aspectos: se a falha foi em espécie específica ou se foi em área geral; como tem sido a utilização do mecanismo de ação; se é o mesmo ou tem sido variado; quais as áreas que fazem fronteira com a do produtor e qual o padrão de distribuição no campo” explica Barroso. Além disso, deve-se atentar para o preparo da calda, ao equipamento, às condições ambientais, ao treinamento do aplicador, às especificidades de cada planta daninha, seu tamanho e a disposição das folhas.

Pesquisas
Um dos focos da pesquisa para fazer frente à resistência de plantas daninhas tem sido buscar entender sua origem, que decorre de uma ou mais mutações. Estas podem ocorrer no local ou fora do local genético de ação do herbicida, alterando sua eficácia, podendo ser mutações simples (baixos níveis de resistência), dupla e tripla (altos níveis de resistência). Alguns estudos vêm avaliando também a translocação dos herbicidas, a metabolização de enzimas, dentre outros aspectos.

Outro foco de trabalho dos pesquisadores é entender a evolução da resistência, que está relacionada com as práticas de manejo dentro da área. “Obedecer a dose é importante, pois ao elevá-la, corre-se o risco de selecionar plantas que possuem mais cópias do gene resistente, mais enzimas e mais resistência ao herbicida. A subdose também não deve ser feita, pois essa prática seleciona plantas mais resistentes ao herbicida utilizado e a outros inibidores, inclusive”, alerta o pesquisador.

De acordo com Barroso, não é possível reduzir essa taxa de mutação que ocorre no campo, mas, sim, lançar mão de outras práticas de controle dessa evolução, como retirada dessas plantas do sistema, o que faz mudar a pressão de seleção. É recomendável também fazer a rotação de herbicidas e de métodos de controle de plantas daninhas; limpeza das máquinas, que podem transportar sementes de uma área a outra; limpar a área (tanto a linha de plantio quanto nas entrelinhas); aplicação sequencial de herbicidas; utilização de herbicida residual; utilização de herbicida pré-emergente; mistura de tanques; uso de adjuvantes e sempre buscar usar a dose específica apontada no produto.

Fonte: Manuela Bergamim (MTb 1951-ES) – Embrapa Florestas