Depois de registrar uma forte valorização no ano passado, a expectativa é de que os preços da celulose possam ficar mais contidos ao longo de 2018, reduzindo a pressão do aumento de custos da matéria-prima às papeleiras.
O mercado de celulose passa atualmente por um período de aumento das cotações, em razão da alta da demanda chinesa, mas também pela recuperação econômica dos Estados Unidos e da Europa. Segundo o professor da Esalq/USP, Carlos José Caetano Bacha, o ciclo de aumento de preços se iniciou em 2017 e deverá seguir até 2019. “A demanda cresce linearmente, mas a oferta por escadas”, diz, em referência à entrada de novas capacidades de produção no mundo, frente a um cenário ainda de restrição da oferta atualmente.
Por exemplo, o Brasil está ampliando a produção por meio da recém-inaugurada fábrica da Fibria, chamada de Horizonte 2, mas sua capacidade plena virá apenas em 2020, projeta a companhia.
No acumulado de doze meses encerrados em dezembro do ano passado, o preço da fibra curta de celulose por tonelada, saindo do Brasil, saltou de US$ 657 para US$ 951 – considerando o preço cheio. Já com desconto, o valor no País subiu de US$ 521 para cerca de US$ 805. Na mesma base de comparação, só que levando em consideração o preço da fibra longa (que tem um custo médio US$ 100 superior ao da fibra curta), nos EUA o preço subiu de US$ 990 para US$ 1.190; na Europa de US$ 810 para US$ 1 mil e, na China, de US$ 600 para US$ 895.
Conforme Bacha, por mais que a tendência ainda seja de alta no preço da commodity, a cotação teria um teto na fibra longa de US$ 1.200 e de US$ 1.100 na curta. “Vai ser muito difícil ultrapassar esses valores”, afirma, explicando que a China, por ser o mercado que mais cresce globalmente – puxado pela demanda de papel tissue(usado como papel higiênico e toalha) – poderia ampliar sua oferta interna, com celulose de bambu. “Apesar da qualidade mais baixa, pode ser misturado como forma de segurar o preço”, explica.
O analista da Planner Cristiano Caris ressalta que ao longo de 2017 foram aplicados reajustes praticamente em todos os meses do ano, o que não deverá se repetir este ano. “Há novas operações entrando aos poucos em funcionamento e uma troca de fibras curtas por longas, além de um efeito calendário da China”, ressalta Caris, que projeta uma leve pressão de alta no primeiro trimestre, porém preços mais perto da estabilidade no ano de forma consolidada.
Apesar de uma pressão um pouco menor no curto prazo, a presidente executiva da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Elizabeth de Carvalhaes, destaca que o atual ciclo de alta não é pontual, mas de demanda contínua. A principal razão, explica, está exatamente na China, pelo deslocamento de milhões de pessoas do campo para os grandes centros urbanos, puxando a demanda, sobretudo, por papel tissue.
“Os estudos internacionais indicam que ainda há espaço para alta do preço”, diz, sem fazer projeções.
Neste contexto, o Brasil é estratégico para abastecer a oferta global, já que até 2025 espera-se um incremento da demanda de aproximadamente 20 milhões a 22 milhões de toneladas. “Dois terços disso virão da fibra curta de eucalipto, que tem o Brasil como o país mais capacitado”, enfatiza ela, reforçando que mais de 40% da celulose comprada pela China é brasileira.
Pressão
No lado do papel, esses menores reajustes devem ajudar o setor a recompor margens este ano. Em 2017, as empresas evitaram repassar a alta da celulose, como forma de evitar perda de vendas, em um mercado ainda em recessão. “Tivemos um aumento da matéria-prima de 25% a 30%, mas repassamos apenas a metade disso”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), Levi Ceregato, prevendo repasses integrais dos custos neste ano.
O presidente do Conselho Diretor da Associação Nacional dos Distribuidores de Papel (Andipa), Vitor de Andrade, diz que os resultados deste ano serão de uma efetiva recuperação. “O ponto de atenção é a cotação da celulose, que teve um cenário atípico em 2017.”
Fonte: Madeira Total