Pesquisadores da Embrapa analisaram um estabelecimento de referência em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) em relação à sustentabilidade, para servir de unidade demonstrativa de intensificação sustentável.
Para fazer esta análise de desempenho socioambiental da ILPF, adotada no empreendimento há 12 anos, eles utilizaram critérios de Avaliação de Impactos Ambientais (AIA), segundo o sistema de indicadores Ambitec-Agro, na Fazenda Boa Vereda, no município de Cachoeira Dourada, Goiás.
Segundo os pesquisadores, a meta foi oferecer, imediatamente a partir das AIA, recomendações de gestão ambiental fundamentadas em uma visão integrada do estabelecimento rural, além de verificar a hipótese de que a adoção de sistemas ILPF gera impactos tecnológicos e socioambientais positivos. “Tais avaliações cumprem importantes objetivos, como a proposição de boas práticas de manejo, a melhoria de eficiência produtiva, o controle da poluição e a minimização de impactos negativos”, dizem em publicação lançada recentemente.
O trabalho detalha um amplo conjunto de aspectos e indicadores, em abordagem multicritério, e se faz acompanhado do sistema operacional utilizado na obtenção de evidências em campo, análise, interpretação e comunicação dos índices de sustentabilidade, servindo como um instrumento de transferência metodológica e um guia para exercícios similares. “Com isso, contribui para a ampliação da base de informações para uma agropecuária sustentável, ambientalmente saudável, economicamente próspera, e socialmente favorável”, enfatizam.
O pesquisador Claudio Buschinelli, da Embrapa Meio Ambiente, primeiro autor do trabalho, explica que “as AIA se configuram como um conjunto de procedimentos adequados para a promoção da gestão ambiental dos estabelecimentos rurais e para a tomada de decisões quanto à adoção de inovações tecnológicas, que favoreçam o desempenho socioambiental das atividades produtivas, inclusive aquelas características da ILPF, visando atender a critérios de sustentabilidade”.
Ele informa que 153 ações de transferência de tecnologia foram conduzidas pela Fazenda Boa Vereda no decorrer dos últimos 12 anos, com foco em capacitações e atualizações de consultores, empresários, estudantes, extensionistas, funcionários de agências de fomento à pesquisa e ao crédito rural, pesquisadores, produtores rurais, professores, técnicos, dentre outros profissionais do setor agropecuário. “Estas atividades foram divididas em seis categorias: cursos, dias de campo e visitas técnicas, matérias jornalísticas, palestras, prêmios e vídeos institucionais.
Após a adoção de práticas de ILPF, a Fazenda Boa Vereda se transformou em uma Unidade de Referência Tecnológica (URT), tendo os seus resultados tecnológicos e socioambientais positivos como exemplo para outros empreendimentos. Devido a isso, a propriedade foi uma das nove vencedoras do ‘Climate Positive Leaders Program 2021’, uma iniciativa da Corteva Agriscience para reconhecimento a fazendeiros e pecuaristas, dedicada para projetar agricultores que adotam com sucesso uma ampla gama de sistemas e abordagens inovadoras, que apoiam de maneira exclusiva suas metas de produtividade, ao mesmo tempo em que protegem a terra e a água, práticas positivas para o clima.
De acordo com os pesquisadores, a adoção do sistema de ILPF na Boa Vereda surgiu da necessidade de diversificação produtiva da fazenda, que hoje planta soja, milho, milheto, eucalipto, capim e cria gado de corte, dada sua anterior dependência econômica exclusiva da pecuária extensiva e de baixo rendimento, importante fonte de renda na região no passado, e que nos anos recentes tem sido pressionada pela atividade canavieira, como consequência da instalação de usinas de açúcar e álcool na região.
Deste modo, eles informam que “a qualidade dos produtos tem sido em geral mantida, como é a prática corrente, mas com redução de exposição a resíduos químicos e com processamento da madeira como atividade de pós-colheita, sendo que em alguns casos a retirada da casca promove maior aporte de matéria orgânica nas áreas de produção”. Os pesquisadores ressaltam também que a carne produzida pelo rebanho no sistema ILPF está alinhada à denominação de Carne Carbono Neutro, marca conceitual de agregação de valor a esse produto, lançada pela Embrapa.
A pesquisa na URT contribui para o alcance do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 12, da agenda da Organização das Nações Unidas, com foco na meta 12.2 – “Até 2030, alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais”, ao prover recomendações de manejo para a gestão ambiental do estabelecimento rural, bem como oferecer um procedimento estruturado para registro, interpretação e comunicação de sustentabilidade.
Ambitec Agro
O Sistema de Avaliação de Impactos Ambientais de Inovações Tecnológicas Agropecuárias (Ambitec-Agro) visa auxiliar as instituições de P&D agropecuários na avaliação dos projetos de pesquisa, bem como produtores rurais e tomadores de decisão na escolha de melhores opções de práticas, formas de manejo e tecnologias voltadas ao desenvolvimento sustentável de atividades rurais.
Consiste de um conjunto de matrizes multicritério que integram indicadores do desempenho de inovações tecnológicas e práticas de manejo adotadas na realização de atividades rurais. Sete aspectos essenciais de avaliação são considerados: Uso de Insumos e Recursos; Qualidade Ambiental; Respeito ao Consumidor; Emprego; Renda, Saúde; e Gestão e Administração.
Os critérios e indicadores são construídos em matrizes de ponderação nas quais dados obtidos em campo, junto ao produtor/administrador do estabelecimento, são automaticamente transformados em índices de impacto expressos graficamente.
Os resultados das avaliações de impacto permitem, ao produtor/administrador, averiguar quais práticas de manejo promovem o desempenho de sua atividade. Aos tomadores de decisões, gestores e organizações, possibilitam a indicação de medidas de fomento ou controle da adoção de tecnologias, segundo planos de desenvolvimento local sustentável e, finalmente, proporcionam uma unidade de medida objetiva de impacto, auxiliando na qualificação, seleção e transferência de tecnologias agropecuárias.
“Tendo em vista a flexibilidade frente aos mais variados contextos produtivos encontrados no diverso meio rural brasileiro, a aplicação e consequente divulgação de tais métodos junto a estabelecimentos rurais de referência permitem, além da necessária confirmação do seu valor técnico, o exercício de promoção e comunicação sobre sistemas de produção que se demonstrem sustentáveis”, enfatiza o pesquisador Geraldo Stachetti Rodrigues, um dos desenvolvedores do método Ambitec-Agro.
São autores do Documentos 135 os pesquisadores Claudio Cesar de Almeida Buschinelli (Embrapa Meio Ambiente), Cristiane Aparecida Fioravante Reis, Alisson Moura Santos, Abílio Rodrigues Pacheco (Embrapa Florestas) e Geraldo Stachetti Rodrigues (Embrapa Meio Ambiente). A publicação está disponível para download aqui.
Foto: Abilio Rodrigues Pacheco