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Paulo Hartung fala sobre a expansão de mercados e produtos florestais no Workshop Embrapa Florestas/Apre

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O economista, ex-governador do Espírito Santo, articulista e presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Paulo Hartung, foi o convidado para a palestra magna do 8º Workshop Embrapa Florestas/Apre, com o tema “Expansão de mercados de produtos florestais”. Logo na abertura, Hartung destacou que o momento vivido pelo mundo é diferente e desafiador, principalmente com o impacto da pandemia, que desorganizou a economia do planeta. Porém, mesmo com as incertezas, ele citou que já é possível perceber uma forte retomada econômica em países como Estados Unidos e China, com previsão de crescimento superior a 6% e 8%, respectivamente, duas bases econômicas que, segundo Hartung, “puxam a economia do mundo quando andam”.

Para justificar a informação e contextualizar a relação desses dados com o setor florestal, Hartung explicou que a principal característica é que a retomada econômica está apoiada na sustentabilidade – ou seja, os planos de investimento de diversos países buscam uma retomada verde.

“A retomada buscando a descarbonização do planeta é um sinal de oportunidade para um país como o nosso. Temos um lugar ao sol nessa discussão, pois somos um país de matriz energética diferenciada, 45% limpa, o que nos diferencia do mundo. Somos a casa da maior floresta tropical, da maior biodiversidade do planeta. Temos 12% da água doce do mundo, temos uma cobertura florestal notável, com mais de 60% do nosso território. Tudo isso é um grande diferencial. Mas, evidentemente, a oportunidade que aparece só se transforma em ação quando o portador da oportunidade faz o seu dever de casa. O desafio do Brasil, agora, é fazer o seu dever de casa”, garantiu.

Segundo o presidente da Ibá, o principal ponto é endereçar o problema ambiental do país, e a região amazônica salta aos olhos no debate. Nesse contexto, Paulo Hartung parafraseou a ministra do Meio Ambient, Izabella Teixeira, e disse que “a Amazônia tem o dom de nos colocar no mundo e de nos tirar do mundo também”.

Para ele, a tarefa de casa “não é uma coisa de outro mundo” e o Brasil precisa, em primeiro lugar, enfrentar a ilegalidade do desmatamento, do garimpo, das queimadas e assim por diante. Hartung lembra que o país já fez isso no passado e tem uma trajetória digna, quando começou, por exemplo, a montar as instituições ambientais, legislações etc, e trouxe a Rio 92, encontro da Organização das Nações Unidas (ONU), assumindo um protagonismo a partir daquele momento. Com isso, conseguiu enfrentar a criminalidade na Região Amazônica.

Além disso, o presidente da Ibá lembrou que, da década de 1970 para cá, o setor teve uma grande virada: não produzia o suficiente para o mercado interno em vários aspectos e transformou o país na maior plataforma de exportação de celulose do planeta – o segundo maior produtor e o maior exportador – em 50 anos. Esse salto aconteceu porque o setor foi procurar o caminho adequado, focando em desenvolvimento científico, tecnológico, produtividade. Ele garante, ainda, que o segmento florestal também vem caminhando na contramão da indústria brasileira. Enquanto há uma desindustrialização acelerada no Brasil, o setor vem crescendo de maneira robusta.  

E se o mundo vem em um cenário de retomada verde, este é um sinal importante para o país, que tem muito a contribuir.

“Avançamos muito até aqui. Até 2024, temos uma carteira de investimento que vai chegar a aproximadamente R$ 50 bilhões em novas plantas, em ampliação de plantas, em novas florestas, com dinheiro para ciência, tecnologia, inovação. No interior do Paraná, temos a Puma 2, da Klabin, uma obra magnífica. Berneck e WestRock estão construindo. Em São Paulo, a locomotiva econômica do Brasil, o maior investimento privado é do nosso setor, uma planta da Bracell para produção de celulose solúvel, olhando para o mercado têxtil. São novos produtos, novos mercados, novas aplicações. Temos um setor ativo. E tudo andando na direção que conecta com esse mundo de sustentabilidade”, afirmou.

Além dessa boa oportunidade econômica, Hartung comentou que a essencialidade do setor foi ressaltada durante a pandemia, e o segmento se manteve produzindo. Ele acredita que a maioria dos brasileiros conhecia o setor em alguns detalhes, mas passou a conhecer muito mais, pois, de repente, percebeu que a máscara cirúrgica, os equipamentos de proteção, a embalagem para o alimento pedido no delivery, tudo vem do setor florestal. Por isso, ele reforça que é fundamental olhar novos usos e novas tendências. Um exemplo é celulose solúvel, com a viscose substituindo o poliéster.

“Estamos vendo um produto que é renovável substituindo um produto que tem origem em matéria-prima fóssil. Quando olhamos a nanocelulose, vemos a celulose com outros atributos e outras aplicações, com resistência, leveza. A Klabin, por exemplo, está montando uma pesquisa com ciência aplicada para criar barreiras para as embalagens de leite, suco, entre outros, pois as atuais, além do papel, usam plástico e metal. A empresa está buscando substituir as barreiras por meio da nanocelulose, transformando, consequentemente, a embalagem em algo plenamente reciclável. Isso é o que a ciência faz”, declarou.

Para fechar a palestra magna, Paulo Hartung citou que o setor vem crescendo exponencialmente, “colocando de pé quase uma fábrica nova por ano no país”, em suas várias dimensões. Essa gama de produtos tem espaço na rampa que o mundo está de descarbonização, que é substituição de produtos não sustentáveis por produtos recicláveis e de materiais renováveis, de olho no clima, no futuro e nas próximas gerações.

Ele reforçou, ainda, que o desafio do clima é pesado para a humanidade, mas que o mundo está em transformação. O consumidor passou a ser exigente e busca saber de onde vem o que está consumindo. Ele quer sustentabilidade, e o setor dialoga com isso. As florestas, há muitos anos, são certificadas, por uma decisão do próprio setor, o que mostra que a atividade tem respeito às leis ambientais, às leis trabalhistas, à diversidade. Além da mudança no consumo, o presidente da Ibá revela que a cabeça do investidor também é outra, e os grandes fundos de dinheiro no mundo começam a discutir a alocação do recurso com critérios que estão indo muito além de rentabilizar os donos do dinheiro; são critérios como o ESG, que visão ao ambiental, ao social e à governança.

“Existe muita oportunidade para o Brasil em cima da mesa e eu torço para que o país faça o seu dever de casa e se qualifique. O setor tem um dinamismo no Paraná e na região Sul extraordinário. Muito do que o Brasil aprendeu foi com esse Estado e essa região. Nos últimos anos, crescemos em cima de áreas degradadas, e os estudiosos dizem que teremos mais de 40 milhões de hectares de terras degradadas. Ou seja, em termos de possibilidade, o potencial de crescimento é enorme para oferecer novos produtos, substituir produtos fosseis por produtos recicláveis e renováveis, vindos das árvores. Só precisamos parar de tomar os caminhos fáceis e acertar o passo para transformar o enorme potencial que temos em novas oportunidades”, finalizou.

Foto: Destaque Ibá edição 294