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Paraná apresenta grande potencial para exploração da resinagem em pínus

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O Brasil é o maior exportador mundial de resina de pínus, colocando no mercado externo 70% da sua produção anual de 200 mil toneladas. O Paraná é o terceiro estado maior produtor (12 mil t), sendo superado por São Paulo (110 mil t) e pelo Rio Grande do Sul (45 mil t). Entretanto, o estado possui um grande potencial a ser explorado, especialmente no Vale do Ribeira, região com clima menos frio e próxima de municípios de São Paulo com tradição na atividade, o que facilita a logística e a comercialização.

Este foi um dos aspectos abordados no terceiro painel do Workshop da Embrapa Florestas/Apre, realizado no dia 11/08. Sob o tema geral “Além da Madeira”, com a mediação do pesquisador Edilson de Oliveira, da Embrapa Florestas, o painel abriu as discussões com a palestra “Potencial da resinagem no Paraná”, apresentada por Mauro Faria Vieira, vice-presidente da Associação dos Resinadores do Brasil – Aresb. 

“Antigamente, havia uma grande depreciação da floresta resinada, sendo uma atividade mal vista. Mas, isso faz parte do passado. Hoje temos uma realidade totalmente diferente, a resinagem pode, sim, ser um grande gerador de recursos para o proprietário florestal e sem danificar a floresta. Tudo vai depender da técnica de resinagem a ser utilizada, a forma que ela vai ser utilizada e por quanto tempo ela vai utilizar”, explica Mauro Vieira. Além disso é necessário ter condições favoráveis de clima e altitude para se obter boa produtividade de resina visando à obtenção de renda extra com a floresta de pínus.

Lucro estimado

Segundo Vieira, mediante as condições favoráveis, após oito anos de plantio, com um desbaste seletivo, pode-se chegar a mil plantas por hectare, produzindo, em média, três toneladas de resina/ano. “O Paraná é um estado muito grande, tem muitas áreas excelentes e com situações favoráveis à resinagem. Essa produtividade pode facilmente chegar à quatro toneladas de resina/ano, com um lucro médio de produtividade da resinagem de R$ 6 mil por ano, por produtor. E, em caso de resinagem familiar, em que o próprio produtor fizer a mão de obra, o lucro pode ser muito maior”, garante.

Outro ponto lembrado por Vieira é a grande variação de preço da resina no mercado, problema que pode ser contornado, já que se trata de um produto que pode ser estocado por seis meses a 1 ano, diferentemente de muitos produtos agrícolas perecíveis. 

Técnicas atuais

De acordo com Mauro Vieira, as atuais técnicas utilizadas no Brasil para a extração de resina não danificam a madeira para a indústria. Já em outras partes do mundo, distintas técnicas de resinagem são utilizadas, mas muitas são ultrapassadas. Por exemplo, a China, maior produtor mundial de resina, utiliza uma técnica muito semelhante à extração de borracha, em que se retira a casca até um pouco do lenho da árvore.

Esta forma de resinagem demanda mão de obra constante, o que encarece a produção. “A brasileira é adaptada da técnica americana, sendo a mais moderna e sustentável hoje do mercado, pois foi muito aprimorada desde quando veio para o Brasil, na década de 1970, com ferramentas e estímulo químico”, explica.

No Brasil, os estimulantes químicos usados para a extração de resina visam auxiliar a produtividade, diferentemente da técnica chinesa, que não usa nenhum recurso semelhante. De acordo com Mauro Vieira, o estimulante usado nas técnicas brasileiras possui em sua base ácido (em torno de 15%), água e farelo de arroz.

“Além de outros estimulantes também para agir na parte fisiológica da árvore e manter os canais abertos, auxiliando na produtividade de resina na área”. Mais um diferencial com relação à técnica chinesa é a necessidade de retornar à área somente a cada 15 dias, para realizar uma nova estria, que consiste na remoção da casca e aplicação do estimulante. 

Outra técnica apresentada por Vieira foi a da do “furo”, que retornou à atividade de resinagem mediante uso de mecanização. Com uma furadeira implementada em uma carregadeira compacta, são feitos alguns furos no tronco, buscando uma quantidade de canais para obter resina por um sistema fechado. Desta forma é possível melhorar a qualidade da resina extraída, por conter menos impurezas e água, além de evitar a perda de voláteis, principalmente a terebintina, favorecendo o alto teor deste subproduto.

Além da terebintina (líquida), extrai-se o breu (sólido) da resina, mediante processos industriais, que equivale a 70% do que é extraído. Ambos são utilizados por indústrias secundárias como base para outros diversos produtos, tintas, cosméticos, produtos de limpeza, essências, perfumes, entre outros. Os produtos de resina podem ser originados também de outras fontes. Uma delas é o petróleo, processo que não é sustentável, além de mais complexo e caro.

Outra fonte de obtenção de breu relatada é feita nos Estados Unidos, pela qual o toco do pínus é arrancado e processado para produzir o breu. Também é possível gerar os subprodutos da resina após o processo Kraft, processando rejeitos de cor negra gerados após a produção de papel e celulose de fibra longa para produção de breu de tall oil, bem como outras resinas, e também o sulfato de terebintina. “Sabe-se que o Paraná tem grandes indústrias no processo Kraft, não sei ao certo se eles fazem o aproveitamento, acredito que tem só duas empresas que façam esse aproveitamento. Os principais produtores são os EUA e o norte da Europa”, relata.

Potencial

O Brasil é atualmente o principal fornecedor mundial de breu, tanto para a Europa, como para o Japão e a Ásia. Apesar de a China ter a maior produtividade anual de resina e derivados, ela tem também um grande consumo interno, demandando, inclusive, desde 2005, importações do produto.

“Há uma grande lacuna no mercado mundial para ser ocupado, principalmente pela queda de produção da China, tanto de resina e também pelo aumento de consumo interno. O Brasil, nos anos 2000, se consolidou em segundo lugar como produtor mundial e, do ano de 2014 até 2019, dobrou a produção. E em 2017/2018 o Brasil se torna o maior exportador de resina e derivados do mundo, sendo o grande fornecedor”, diz.

Mauro Vieira acredita que o Paraná pode se tornar o maior produtor de resina do País, justamente por possuir quase metade das florestas plantadas de pínus do País (42%), em comparação ao estado de São Paulo, que é hoje o maior produtor de resina do país, tendo apenas 8% de florestas de pínus. “Se a gente colocar 10% dos 700 mil hectares que o Paraná tem de floresta plantada de pínus, estamos falando em 70 mil hectares produzindo resina. O Brasil pode, sim, alavancar em muito a sua produtividade de resina e tem mercado para isso por um bom tempo”, garante Vieira.

“Sabemos que a espécie Pinus taeda, que não é utilizada para resinagem, predomina no Paraná. Mas o estado tem grande potencial, principalmente com o Pinus elliottii, e a resinagem pode, sim, ser uma importante alternativa de renda, em especial para os pequenos e médios produtores e não atrapalharia o atendimento da indústria madeireira, ao se utilizarem as técnicas apropriadas para a extração”, enfatiza.

Mauro Vieira usou como exemplo de uso duplo do plantio florestal uma empresa localizada no município de Nova Campina-SP, que, além de oferecer toras para a indústria madeireira, usa como estratégia a resinagem somente no final do ciclo. “Para não ter problemas de perda da primeira tora, antes do corte final, a empresa faz a resinagem dessas áreas. Outra estratégia que também pode ser adotada é resinar a linha de desbaste”, explica.

A empresa citada resina as árvores por dois anos, um período que pode parecer pouco, mas que, de acordo com Mauro Vieira, proporciona um volume de resina muito interessante, principalmente para quem tem uma boa quantidade de hectares. “E não atrapalhando o abastecimento da indústria, então temos estratégias que podem ser tomadas para atender aos dois segmentos”, garante.

Funpinus
O tema resinagem vem recebendo mais atenção desde a criação, em 2016, do Funpinus, um projeto cooperativo entre Embrapa Florestas e dez empresas do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. O Funpinus tem como objetivo o desenvolvimento de materiais genéticos superiores de pínus para madeira sólida a ser usada por serrarias e laminadoras e para a produção de resina. 

Foto: Captura de tela – Workshop Embrapa Florestas/Apre