Durante o bloco que discutiu “Monitoramento, estimativas e cenários de perdas não planejadas” do 7º Workshop Embrapa Florestas/Apre, Alexandre Coutinho Vianna Lima, diretor, consultor e sócio-proprietário da MIP Florestal, falou sobre “Tecnologias aplicadas no monitoramento e classificação de danos por pragas e doenças”. De acordo com o palestrante, a MIP Florestal conta, hoje, com diversas ferramentas para trazer mais segurança ao manejo integrado de pragas, como monitoramento por satélite, diagnóstico em campo e amostragem específica da praga. Com base nas informações que chegam do campo, a empresa faz a recomendação de manejo para uma decisão assertiva.
Nas imagens de satélite, dois modelos estão disponíveis, o Landsat-8 e Sentinel-2. A partir da tecnologia, inúmeros tratamentos podem ser realizados com base nas imagens captadas, mas o mais comum é o método NDVI. No sistema, é possível utilizar também o banco de dados para fazer a análise das imagens e acompanhar a evolução da floresta. “Assim, conseguimos fazer um tratamento bem disperso. Também realizamos a caracterização de tratamentos, dividindo os alvos por paletas de cores, em que cada alvo representa um tipo de tratamento. Dessa forma, fazemos a personalização e verificamos a quantidade de anomalias que estão ocorrendo no campo”, explicou.
Segundo Lima, a mensuração pode ser automática ou manual, e o cliente pode optar por qualquer uma das duas maneiras, tendo autonomia para verificar somente a área que necessita para controlar determinada praga. Com o banco de dados, é possível verificar as características para entender por que um NDVI é sadio e outro é anormal, por exemplo.
Em seguida, é feito o diagnóstico. Ao observar uma anomalia, deve-se identificar o que está ocorrendo no campo para determinar a causa do problema. Os próximos passos são amostragem e monitoramento.
“Numa amostragem, precisamos saber o índice de infestação, índice de parasitismo, nível de injuria e postura da praga. Cada empresa tem a sua metodologia. Tudo isso ajuda a saber o melhor momento para a intervenção”, justificou.
Outro ponto destacado pelo diretor da MIP Florestal foi a possibilidade de perdas. Ele explicou que o sistema traz um conceito bem aplicado de manejo de pragas que mostra densidade populacional da praga versus tempo.
“Em algumas situações, temos o inseto no ambiente, mas ele não é uma praga. Em outras, pode se tornar uma praga sazonal, e o próximo passo é gerar dano econômico. Só conseguimos observar isso com monitoramento sequenciado de infestações. Sem isso, não é possível definir esses pontos. Isso ajuda a ter nível de controle para tomada de decisões, intervenções etc. Dependendo do tempo, se não houver coleta de dados muito especifica no campo, a empresa estar fazendo intervenção no momento errado, por exemplo. Sabemos que o produto sozinho não faz milagre”, detalhou.
Por fim, ele salientou que não é possível ter alta produtividade de uma parte do sistema estiver corrompida.
“Se tiver um elo fraco, que é o Manejo Integrado de Pragas, pode-se colocar todo o investimento em risco. Não adianta querer fazer melhor plantio, melhor adubação, melhor colheita e pecar no MIP. No manejo integrado não significa aumento proporcional do volume final, mas, sim, a garantia de que pragas não venham a comprometer o resultado esperado. Para se colher produtividade no resultado, deve-se proteger os ganhos no processo. Ou seja: MIP faz parte do processo. Se tivermos um elo fraco ali, podemos colocar muita coisa em risco”, encerrou.
A importância da precisão
A segunda palestra do painel ficou por conta do professor Julio Arce, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que abordou o tema “Precisão: O grande desafio no manejo de florestas plantadas”. Ele afirmou que o grande desafio do MIP é justamente a precisão e ressaltou que a proteção florestal deve ser uma preocupação, pois impacta no resultado final.
Na palestra, Arce explicou que o Manejo Florestal de Precisão (MFP) é um conceito similar ao da agricultura de precisão, levando em conta as especificidades de cada local da floresta. No MFP, faz-se o “planejamento e execução de tratamentos silviculturais e operações florestais específicas para os diferentes locais ou áreas, de modo a aumentar a qualidade e o uso de produtos florestais, reduzir o resíduo, incrementar o lucro e manter a qualidade do ambiente”.
Mas, ao definir o conceito de MFP, o palestrante questionou por que é necessária tanta precisão em campo. Para exemplificar, ele citou o espaçamento entre linhas: a grande maioria das florestas é plantada em linhas. Se as linhas forem se “fechando”, haverá mais plantas por hectare, e isso aumenta o custo; se forem se abrindo, serão menos plantas por hectare, ou seja, menor crescimento. Além disso, entre as plantas, quanto maior for a declividade, mais plantas por hectare e maior custo. Arce também falou sobre a delimitação dos talhões ou polígonos, destacando que é necessário saber até onde chega cada talhão.
“As árvores são discretas, são números naturais, mas os talhões são unidades contínuas. Se existe talhão de 40 hectares, nunca se faz senso dessas árvores e, principalmente, das não arvores. Por isso, é muito importante saber até onde vai, para evitar surpresas. Solo, geadas, ventos também impactam. Se pudermos orientar essas linhas para facilitar escoamento dos ventos, facilitar as drenagens, é um ponto a mais. Ou seja, a precisão é apresentar, para cada árvore ou cova, um registro e as coordenadas. Esse sonho está cada vez mais preto de acontecer”, revelou.
Na avaliação do professor da UFPR, o setor florestal vem encontrando novas fronteiras, como as práticas de coveamento e plantio de precisão que já estão se tornando realidade. Ele reforçou que a tecnologia é uma forte aliada do manejo e da precisão, assim como do controle e da prevenção de pragas e doenças. Ferramentas de monitoramento, mapeamento, sensoriamento estão sendo cada vez mais incorporadas à atividade florestal.
“Em algum momento, poderemos ter maquinas autônomas, como vemos na agricultura. Por enquanto, são pilotadas, mas por uma pessoa que consegue fazer inúmeras covas por dia. Não conseguimos precisão absoluta, mas uma precisão boa vai de 10 a 15 centímetros. Se o operador quiser ‘acertar na mosca’, ele pode, mas, obviamente, diminui um pouco a produtividade, e chega uma hora que tanta precisão talvez não seja necessária. Não precisamos ter preocupação milimétrica, mas centimétrica”, reforçou.
Para Julio Arce, neste assunto, a silvicultura brasileira está se destacando em nível mundial, e a eficiência encontrada no país é insuperável. Segundo ele, com ferramentas de automatização, por muito tempo o setor florestal brasileiro continuará nesse caminho, pelo menos em termos de volume, já que ninguém compete com o Brasil em produtividade.
Como vantagens do manejo de precisão, o professor afirmou que poder contar com um registro exclusivo e coordenadas para cada árvore, com precisão de centímetros, é algo muito bom, e os resultados virão quando for possível incorporar todas informações da colheita ao mapa. Ele também citou que a geoestatística é uma aliada do inventário florestal e sugeriu que, ao invés de as empresas fazerem média, podem gerar mapas de produtividade, de diâmetro, entre outros. “Isso permite planejar colheita, estimar custo etc. Quando finalmente colher, terá mapas completos de volume, de diâmetro e de valor das árvores. Os mapas são o produto final de todo o manejo florestal de precisão”, completou.
Fonte: Maureen Bertol (MTb 8330/PR) – Interact Comunicação