Em um cenário de superpopulação, crescimento econômico e industrial e avanços tecnológicos desenfreados, promover o desenvolvimento sustentável em sua totalidade (social, ambiental e econômica) é um dever coletivo: do Estado, da sociedade civil e do setor privado.
Visando estabelecer metas globais para nortear o desenvolvimento sustentável em todo o planeta, a Organização das Nações Unidas estabeleceu os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), peça-chave da Agenda 2030, que tem como objetivo garantir o cumprimento destas e outras metas até 2030. Os 17 ODS são divididos em 169 alvos que detalham o escopo de cada Objetivo. Saneamento, equidade de gênero, uso de energia e mudanças climáticas estão entre os temas abordados pelos ODS.
Devido ao foco no desenvolvimento sustentável, é certo que os ODS têm uma relação direta com indústrias altamente envolvidas em processos socioambientais, como o próprio setor florestal. Por se tratar de um segmento altamente diversificado, as atividades da indústria florestal estão diretamente e tangencialmente relacionadas a diversos ODS e seus alvos específicos.
ODS e o setor florestal
“De forma geral, o manejo florestal tem relação com o Objetivo 15 – Vida Terrestre, que visa proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de
biodiversidade. Já os empreendimentos certificados pelo FSC em manejo florestal atendem o indicador 15.2, cujo objetivo é promover a implementação da gestão sustentável de todos os tipos de florestas, restaurar florestas degradadas e aumentar substancialmente o florestamento e o reflorestamento globalmente até 2020”, detalha Fernanda Vaz Pereira, analista de desenvolvimento de negócios do FSC Brasil.
Cassiano Schneider, diretor de operações da Malinovski, enfatiza que o indicador 15.2 engloba tanto o manejo sustentável de florestas nativas, como a
Amazônia, como também o cultivo de florestas plantadas com finalidades comerciais, ou seja, produção de madeira, energia e outros produtos não-madeireiros.
Entretanto, além do ODS 15, há outros sete Objetivos com grande aderência aos benefícios das florestas, quer seja plantadas ou nativas:
ODS 6 – ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO
A conservação dos solos promovida pelas florestas potencializa a recarga dos aquíferos e evita o assoreamento dos corpos d’água
ODS 7 – ENERGIA LIMPA
A biomassa florestal, representada não só pela madeira em si, mas também por galhos, cascas e raízes, é uma importante fonte de energia renovável e sua utilização em substituição a combustíveis fósseis é crescente.
ODS 8 – TRABALHO E CRESCIMENTO ECONÔMICO
O segmento de florestas plantadas faz parte do agronegócio e, especialmente no Brasil, as altas produtividades das plantações florestais elevam a nossa competitividade, gerando renda, emprego e saldo positivo na balança comercial.
ODS 9 – INDÚSTRIA E INOVAÇÃO
A utilização da madeira tem feito parte da história da humanidade desde as cavernas. Nos dias atuais, a madeira tem sido empregada como material substituto do aço, do plástico, do concreto e tantos outros. Seus compostos, como a lignina e a celulose, estão presentes no nosso cotidiano e muitas
pessoas nem imaginam que tecidos, remédios e inúmeros objetos vêm das florestas.
ODS 11 – CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS
Os modelos construtivos baseados em aço, concreto e alvenaria estão gradualmente cedendo espaço a novas tecnologias como Gluelam e CLT (Cross-Laminated Timber), que usam a madeira como matéria-prima. Aos poucos, as cidades ficarão “mais verdes”, gerando menos impacto ambiental.
ODS 12 – CONSUMO E PRODUÇÃO SUSTENTÁVEIS
A produção de madeira, através das plantações florestais ou do manejo sustentável de florestas naturais, é um grande diferencial positivo. A madeira é um recurso natural renovável, reciclável e biodegradável. Sua grande versatilidade pode substituir inúmeros materiais de origem não renovável.
ODS 13 – AÇÃO CONTRA MUDANÇAS CLIMÁTICAS
As florestas ajudam a reduzir emissões de gases causadores do efeito estufa, quando substituem combustíveis fósseis por biomassa. Adicionalmente, também contribuem com o “sequestro de carbono” ao fixarem este elemento inicialmente nos troncos das árvores e posteriormente na madeira utilizada para construção de estruturas permanentes (casas e edifícios) ou confecção de objetos (móveis, pisos e utensílios).
Na prática
Embora sejam delineadas metas e alvos concretos para cada Objetivo, conciliar a teoria e a prática pode ser desafiador. Os benefícios, contudo, podem justificar os esforços para aderir aos ODS, que constituem uma agenda mundial, da qual o Brasil e mais 192 países são signatários.
“O principal benefício é que os ODS ajudam a aumentar a capacidade de gerar valor, à medida em que sugerem às empresas verificar seu nível de risco de desempenho nas diferentes dimensões da sustentabilidade (econômico, social, ambiental). Adicionalmente, cabe destacar que parece já não haver mais dúvida de que o planeta é finito. Portanto, trata-se de pensar na possibilidade da vida das pessoas e, em consequência, na perenidade das próprias empresas”, aponta Diva da Paz Vieira, consultora do centro de inovação Sesi PR e especialista em indicadores de desenvolvimento.
Fernanda Vaz Pereira, do FSC Brasil, argumenta que o principal benefício é a orientação para as diretrizes possíveis para o desenvolvimento sustentável. “Cada setor tem uma contribuição a dar e os ODS são o norte. Os obstáculos são muitos, há grandes desafios na implementação. Não é por acaso que o objetivo 17 traz indicadores para parcerias e meios de implementação. A intenção não é andar sozinho. Juntas, as organizações têm potencial muito maior de alcançar os objetivos a elas aderentes.”
Especificamente para o desenvolvimento da indústria florestal, o grande benefício, segundo Cassiano Schneider, é colocar na agenda global de prioridades a necessidade de recuperar florestas nativas e de plantar mais florestas comerciais, para produção de madeira para consumo, o que permite conservar as florestas naturais, cuja produtividade em termos de madeira é menor, mas abriga a enorme biodiversidade de flora e fauna que
tanto precisam de cuidado.
“Recuperar as matas ciliares e fragmentos florestais nativos não custa pouco nem é rápido, mas precisa ser feito agora e sempre. A questão é: quem paga a conta? Plantar florestas para recuperar áreas degradadas e para fornecer madeira para as necessidades humanas também requer a alocação de recursos financeiros, cujo retorno dependerá da agregação de valor à madeira e ao reconhecimento deste valor pela indústria e pelo consumidor final”, contrapõe Cassiano.
Portanto, políticas públicas baseadas em planejamento estratégico setorial são essenciais para que as florestas que precisam ser plantadas gerem bons resultados ambientais, econômicos e sociais. Ainda, há de se levar em consideração que os ODS são uma agenda mundial com 17 objetivos e 169 metas. Para cumprir tudo isso, os governos e a sociedade civil precisam trabalhar de forma sinérgica, pois nada é fácil, rápido ou barato.
“Pode-se destacar também que, ironicamente, a enorme burocracia do licenciamento ambiental em diversos Estados e também a nível federal tem inviabilizado importantes projetos que permitiriam atingir as metas e objetivos diretamente relacionados ao nosso segmento,” acrescenta o diretor de operações da Malinovski.
Outra preocupação seria o “custo do dinheiro”, ou seja, as taxas de juros de mercado. Como os projetos florestais têm horizonte de longo prazo e as receitas normalmente só são auferidas no fim do ciclo de investimento, o dinheiro fica imobilizado por muito tempo, exigindo uma excelente performance para compensar todo esse tempo de espera.
Por isso, muitos investidores em potencial optam por investimentos com retorno antecipado e assim deixam de investir em projetos florestais. Fundos de pensão e investidores estrangeiros têm perfil mais conservador e de longo prazo, mas precisam de segurança jurídica para seus contratos, estatísticas setoriais confiáveis para suas projeções e parceiros competentes para implantar e gerir os projetos.
“Precisamos continuar melhorando nestes três aspectos, para garantir melhores retornos aos nossos investidores, pois são eles que viabilizarão o cumprimento dos ODS do setor florestal,” conclui.
Fonte: B.Forest