Após ser submetida à consulta nacional no início de 2021, a ABNT NBR 16.936: Edificações em light wood frame deve ser publicada ainda este ano. O texto, elaborado pelo Comitê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/CB-02) com a participação do Comitê Brasileiro de Madeira (ABNT/CB-31), traz diretrizes para projeto e execução de sistemas construtivos em light wood frame, incluindo os requisitos para os materiais utilizados no sistema, considerando a ABNT NBR 15.575: Edificações habitacionais — Desempenho.
A norma estabelece alguns requisitos gerais que devem ser seguidos. O primeiro deles é utilizar produtos de madeira que tenham matéria-prima de origem legal e proveniente de florestas plantadas ou florestas nativas, conforme legislação vigente. “O texto apresenta um conjunto de detalhes que devem ser adotados para evitar o contato e a permanência dos componentes de madeira com a umidade. Isso passa pelo uso de membranas ou mantas de impermeabilização e proteção da fachada”, comenta a engenheira Dayane Potulski, membro da equipe técnica da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci) e do Comitê Brasileiro de Madeira na ABNT.
Referenciais Técnicos
O texto normativo se divide em materiais, projeto executivo, projeto estrutural, projeto de fundação, projeto de cobertura, projeto de produção, instalações hidráulicas, elétricas e sanitárias, impermeabilizações, além de prevenção e combate ao incêndio. Ele se aplica a edificações isoladas ou geminadas de até dois pavimentos, não abrangendo edificações multifamiliares com unidades autônomas sobrepostas.
Para a elaboração da NBR 16.936: foram mais de quarenta normas brasileiras referenciadas. Também foram estudadas referências internacionais como o Eurocode 5, que trata especificamente de projetos com estrutura de madeira, além de normas ISO, europeias, americanas. “Para a elaboração do texto, foram consultados diversos documentos e publicações relacionados ao tema, como a Diretriz Sinat 005 que define requisitos e critérios de desempenho, bem como métodos de avaliação de produtos inovadores”, explica Dayane Potulski.
Incentivo à industrialização
O light wood frame é um sistema construtivo industrializado que utiliza frames de madeira extraída de florestas plantadas e submetida a tratamentos químicos e em autoclave para evitar ataques de organismos xilófagos.
A publicação da norma de wood frame gera uma expectativa de aumento do consumo per capita de madeira no mercado interno com o uso de produtos de maior valor agregado. “Estamos diante de novas oportunidades para as indústrias da construção e de madeira no país. A publicação da norma técnica abrirá caminho para disseminar esse método construtivo eficiente, sustentável e que há décadas vem sendo utilizado em diferentes partes do mundo”, analisa Potulski
De acordo com a engenheira da Abimci, o wood frame é uma alternativa viável que pode contribuir para ajudar a reduzir o déficit habitacional brasileiro, que em 2019 chegou a 7,79 milhões de moradias. Segundo dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), até 2030 haverá uma demanda de 30,7 milhões de residências, considerando o crescimento médio de 3% na formação de novas famílias.
Na busca por soluções que conciliem custo, sustentabilidade e desempenho, o mercado tem direcionado suas atenções para sistemas construtivos industrializados, como o wood frame, para viabilizar a construção de moradias em larga escala. A atuação de algumas empresas confirmam esse movimento. A Tecverde, por exemplo, soma mais de 175 mil metros quadrados construídos com um sistema baseado em frames de madeira e que conta com até 85% das etapas alocadas em ambiente fabril. A Tenda também investe no wood frame com a construção de uma fábrica em Jaguariúna, SP, para produzir dez mil casas/ano em wood frame. A expectativa da construtora é conseguir um preço competitivo com o ganho de escala e, ainda, reduzir a sua pegada ecológica visto que a madeira é capaz de capturar carbono da atmosfera.
Colaboração técnica
Dayane Potulski — Engenheira industrial madeireira, integra há quase dez anos a equipe técnica da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci). É chefe de secretaria do Comitê Brasileiro de Madeira na ABNT (ABNT/CB-31), responsável pela Comissão de Estudos de Sistemas Construtivos Light Wood Frame.