A Klabin, maior produtora de papel para embalagens do Brasil, tem chamado atenção na competitiva indústria global de produtos florestais por sua abordagem inovadora, especialmente após lançar um kraftliner feito 100% de eucalipto, o Eukaliner.
Esse avanço foi alcançado enquanto a empresa também reforçava seu portfólio de produtos à base de fibra longa, incluindo a produção de celulose fluff em um país onde todos os novos projetos se concentram na celulose branqueada de eucalipto (BEK).
Sob a liderança do CEO Cristiano Teixeira desde 2017, a companhia tem apresentado uma trajetória consistente de crescimento estratégico e diversificação de portfólio, com uma receita líquida de 20 bilhões de reais (US$ 3,6 bilhões) em 2024 — um aumento de 9% em relação a 2023.
Após ser eleito CEO do Ano na América Latina pela Fastmarkets Forest Products pelo segundo ano consecutivo, Teixeira agora conduz a empresa em um processo de desalavancagem, depois de colocar em operação duas máquinas de papel e uma nova grande planta de papelão ondulado nos últimos anos.
Ele também prepara o próximo ciclo de crescimento da Klabin, no qual a fibra longa tem papel central, além de buscar oportunidades no mercado de papel reciclado.
“A estratégia central da Klabin continua sendo a diferenciação por meio da fibra longa”, disse Teixeira em entrevista exclusiva à Fastmarkets. “Essa característica permite criar produtos de nicho, um portfólio mais amplo, com maior valor agregado — possibilitando à empresa fabricar produtos que atualmente só são feitos no Hemisfério Norte.”
A presença mais forte da Klabin nos estados do Sul do Brasil, como Paraná e Santa Catarina, faz parte da estratégia no mercado de fibra longa e também serve como proteção contra as mudanças climáticas, já que são regiões mais frias que permitem alta produtividade nos plantios de pinus.
“Se estivéssemos apenas no ‘jogo do eucalipto’, obviamente estaríamos em outros estados [como Mato Grosso do Sul], trabalhando com produtos mais commoditizados”, afirmou Teixeira.
A visão de longo prazo da Klabin com a fibra longa também está ligada, segundo ele, ao fato de que a empresa ainda tem membros da família fundadora como acionistas importantes, agora na quarta geração. Eles veem os produtos de papel alinhados com grandes tendências de consumo e consideram a fibra longa um investimento de baixo risco.
“Não podemos perder de vista que o setor de papel e celulose migrou fortemente para corporações, cujo foco principal é o retorno sobre o capital investido”, disse Teixeira. “Também temos isso, mas não é só isso. Há um legado que exige visão de longo prazo.”
Segundo ele, os produtos feitos com eucalipto continuam muito importantes no portfólio da empresa, mas uma parcela menor do consumo virá dos produtos de fibra longa, voltados ao segmento premium e com maior valor agregado.
“É aí que queremos estar”, declarou.
Por isso, desde o fim de 2022 a Klabin vem informando ao mercado que planeja instalar uma nova planta de produção de celulose fluff de fibra longa em Santa Catarina, com capacidade para cerca de 1,2 milhão de toneladas por ano. O projeto deve ser submetido ao conselho após a conclusão do processo de desalavancagem, prevista para o fim de 2026.
“Do ponto de vista das tendências, ainda vemos o envelhecimento da população e aumento da renda entre pessoas mais velhas”, disse Teixeira. “As pessoas estão cuidando mais de si mesmas. Para nós, o fluff é um produto vencedor no longo prazo.”
Papel reciclado é o próximo passo
Em outra frente, Teixeira tem sido claro ao afirmar que a próxima expansão da Klabin no setor de papel deve focar no papel reciclado, com uma nova unidade de 450 mil toneladas por ano a ser instalada próxima à unidade de embalagens em Piracicaba nos próximos anos.
Segundo ele, a mudança do papel virgem para o reciclado é um movimento natural, já que a empresa colocou em operação duas máquinas voltadas ao papel virgem nos últimos anos. A ideia é aumentar o retorno sobre o capital e direcionar maiores volumes ao mercado externo, que precisa de fibra virgem — substituindo produtos feitos em fábricas antigas e com custo elevado.
Esse movimento, segundo Teixeira, já está em andamento, com o fechamento de capacidade no Hemisfério Norte.
Mas ele também reconhece que produtores de celulose e papel virgem enfrentam dificuldades para obter retorno sobre o capital investido.
“Há uma dificuldade do mercado em reconhecer o valor das florestas e ativos florestais dentro da capitalização de mercado das empresas”, afirmou. “Isso vale para a Klabin e para várias outras companhias do setor. O valor de mercado não consegue considerar as florestas da Klabin, sem falar nos equipamentos de última geração, tecnologia, recursos humanos e tudo o que compõe uma empresa como essa.”
Teixeira disse que, além da questão de valuation, o setor de papel também enfrenta uma concorrência forte — e “injusta” — com o plástico, uma indústria que recicla apenas 10% da sua produção e é subproduto da petroquímica.
“Nesse contexto, precisamos tirar a floresta da base de custo”, disse. “O uso de fibra virgem deve ficar com os produtos que exigem suas características técnicas, como resistência à umidade e contato com alimentos. Para o restante do mercado, a empresa precisa remover o custo florestal ao fazer mais produtos reciclados.”
Gestão de um portfólio amplo
Diferentemente de outras empresas da região que se concentram apenas na celulose BEK (Branqueada de Eucalipto Kraft), a Klabin atua em diversos segmentos do mercado de papel e mantém uma operação diversificada, embora continue atuando também na celulose. Segundo Teixeira, gerir um portfólio tão amplo exige experiência comercial, capacidade de operar em diferentes mercados e um planejamento operacional dinâmico.
Mas a BEK também é importante para o negócio, afirma, por ser uma geradora rápida de caixa quando necessário, enquanto no setor de embalagens, produtos menos commoditizados protegem os investimentos da companhia, como o papel-cartão e o papel para embalagens líquidas.
“No mercado de kraft, queremos converter o máximo possível em caixas de papelão ondulado”, disse Teixeira, acrescentando que o objetivo é ter o menor custo de produção em caixa entre os diversos setores.
Após o lançamento inovador do Eukaliner, Teixeira afirmou que há muito mais por vir em termos de tecnologia.
“Investimos muito em aumentar a reciclabilidade de alguns produtos, na criação de barreiras biodegradáveis e em produtos que possam substituir os plásticos de uso único”, disse.
Mas, segundo ele, a Klabin precisa escolher suas batalhas.
“Não acredito que o papel tenha que ser competitivo em todas as frentes”, disse. “O papel tem que estar onde faz sentido, e toda indústria precisa ter um compromisso com a reciclagem. A reciclagem é essencial na visão global para os próximos 20 anos.”
Ele acredita que o desenvolvimento de tecnologia com baixo custo de produção é o que torna a Klabin um exemplo de sucesso na indústria.
“Sempre mantemos a eficiência operacional no radar, e é a combinação disso com o desenvolvimento de novas tecnologias que nos permite manter a visão central da empresa”, afirmou. “Não quero que nos tornemos uma empresa excessivamente voltada à inovação a ponto de perder o essencial da competitividade e do custo. Mas também não adianta focar só na eficiência e perder de vista a diferenciação de produtos para os nossos clientes.”
Mudanças climáticas e o setor
A Klabin atualmente administra 911 mil hectares de florestas no Brasil, sendo 41% destinados à conservação. Como o setor depende do clima, da chuva e da qualidade do solo, Teixeira reconhece que as mudanças climáticas já começaram a afetar as regiões de alta produtividade no mundo, incluindo o Brasil.
Manter a curva de produtividade, medida pelo incremento médio anual (IMA, em metros cúbicos por hectare ao ano), será um desafio nas próximas décadas, pois a redução nas chuvas combinada ao aumento da temperatura média traz riscos de estagnação ou até queda.
A produtividade das florestas de eucalipto da Klabin é de 54 m³/ha/ano, e das de pinus, 39 m³/ha/ano — mas em plantios recentes, Teixeira disse que, em alguns casos, o eucalipto já atingiu mais de 60 m³/ha/ano.
Todo o desenvolvimento florestal é feito por clonagem tradicional de árvores, por conta das limitações impostas por certificações como a do FSC (Forest Stewardship Council), mas Teixeira acredita que o debate precisa avançar para a proteção do futuro.
“Acreditamos que árvores geneticamente modificadas podem se tornar realidade em áreas mais afetadas pela seca — e talvez esse seja o maior desafio do setor hoje”, afirmou. Diante das mudanças climáticas e da necessidade de grandes áreas para produzir milhões de toneladas de celulose, os produtores podem precisar de mais terra e recorrer a regiões muito mais distantes.
“O custo tende a subir se não houver evolução significativa na produtividade — e isso não está acontecendo pela seleção natural”, disse Teixeira. “A necessidade de grandes áreas — em um momento em que o mundo exige mais capital e taxas de juros altas, em um setor já muito intensivo em capital — é uma ameaça. [A produtividade florestal] pode chegar a um ponto em que só o melhoramento genético trará melhorias.”
Fonte: Fastmarkets.com