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Guerra comercial no exterior ameaça mercado da madeira no Brasil

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Por Bruno Maffi

Especial para a Gazeta do Povo

Taxação na importação de madeira pelos EUA preocupa setor nacional. (Foto: Erica Fernanda/IAT)

A iminência da taxação de 25% na importação de madeira, anunciada pelo governo americano há um mês, acendeu um alerta ao setor madeireiro no Brasil. A concorrência para a exportação deve ficar mais acirrada. O Canadá, maior fornecedor de madeira aos Estados Unidos, é um dos países na mira do presidente Donald Trump e um recuo nessas vendas pode empurrá-lo na busca de outros mercados, o que afetaria a exportação brasileira.

O Brasil é alvo de uma investigação, por ordem administrativa de Trump, sobre a importação de madeira no país. O republicano promete repetir aos produtos brasileiros a tarifa que será imposta a Canadá, México e China. A medida entraria em vigor no próximo mês.

“Nós seríamos beneficiados se escapássemos da sobretaxa. Seria uma boa oportunidade. Porém, o Canadá viria com força para pontos que o Brasil domina”, explica o empresário do ramo de compensados Roni Marini, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e coordenador do conselho temático da madeira na instituição. O Paraná é um dos estados que mais exporta o produto.

A preocupação do mercado brasileiro é com a capacidade de produção e preço das indústrias canadenses, mexicanas e chinesas, que somadas são responsáveis por 58% da importação americana. “Mercados como Reino Unido e União Europeia tendem a ser os mais afetados pelo desvio da oferta. O que pode comprometer a presença brasileira nesses destinos, devido à concorrência no mercado global”, expõe o embaixador José Carlos da Fonseca Junior, diretor de relações institucionais da Associação Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), e presidente da Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel).

Os Estados Unidos são o principal cliente brasileiro de três produtos:

  • Compensado de pinus.
  • Madeira serrada de pinus.
  • Molduras de pinus.

Diversificação reduz riscos, avalia empresário do segmento madeireiro

Dos US$ 49,3 bilhões importados pelos EUA no ano passado, o Brasil deteve a fatia de US$ 1,7 bilhões. Apenas China e Canadá superaram o fornecimento brasileiro. O momento pede atenção do mercado para a possível diversificação de clientes.

“Outros mercados podem ser abertos, é um momento ideal para buscar novos compradores para nossos produtos e termos uma cartela mais diversificada, a fim de não depender exclusivamente de uma única economia. A diversificação reduz riscos”, afirma o empresário e consultor Ivan Tomaselli.

Embora a alta do dólar torne os produtos brasileiros mais competitivos no exterior, as sobretaxas podem gerar aumento de oferta não apenas de produtos, mas também de preços. “Com a política tarifária de Donald Trump, está em jogo não apenas a restrição ao mercado estadunidense. O aumento da concorrência em outros mercados tende a resultar em inundação de produtos a baixo custo, característicos das operações chinesas”, pondera o presidente da Empapel.

Ainda que o objetivo de Trump seja fortalecer os produtores americanos com a sobretaxa na importação, os custos serão elevados aos consumidores, o que pode reduzir o tempo de atuação da medida. “A inflação vai subir. Já há uma tarifa agressiva para o aço e o alumínio. Se houver para a madeira, será o caos”, avalia o economista Marcos Rambalducci.

Ele acrescenta que, nos Estados Unidos as casas são construídas com madeira, incluindo madeira compensada. “Tudo vai ficar mais caro, vai ser impraticável para o consumidor. O governo vai acabar cedendo”, acredita ele.

Para equilibrar as contas, os EUA teriam que possuir um maior número de indústrias para atender a demanda do setor madeireiro. “Não acredito na autossuficiência dos Estados Unidos nesse setor. Eles possuem matéria-prima, mas não têm indústrias. Demandaria muito investimento e os empreendedores podem não embarcar nessa, já que em quatro anos pode haver mudança no governo e no modelo de política comercial. Poder ficar mais difícil, mas vamos continuar vendendo para eles”, aponta Roni Marini.

Ele acrescenta que, nos Estados Unidos as casas são construídas com madeira, incluindo madeira compensada. “Tudo vai ficar mais caro, vai ser impraticável para o consumidor. O governo vai acabar cedendo”, acredita ele.

Para equilibrar as contas, os EUA teriam que possuir um maior número de indústrias para atender a demanda do setor madeireiro. “Não acredito na autossuficiência dos Estados Unidos nesse setor. Eles possuem matéria-prima, mas não têm indústrias. Demandaria muito investimento e os empreendedores podem não embarcar nessa, já que em quatro anos pode haver mudança no governo e no modelo de política comercial. Poder ficar mais difícil, mas vamos continuar vendendo para eles”, aponta Roni Marini.

Região Sul detém 86,5% das exportações de madeira

Se o momento é de expectativa, os produtores do Sul do Brasil são os mais preocupados com os impactos. Dados da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham) indicam que os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul representaram 86,5% do total exportado pelo Brasil, no último ano, aos Estados Unidos.

Santa Catarina tem um amplo destaque. O estado é responsável por 41% das exportações de madeira e por 50% da exportação de móveis. Dados oficiais da Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, apontam que, em 2024, Santa Catarina exportou US$ 651.004.071 em madeira e derivados.

O estado catarinense foi seguido pelo Paraná, com US$ 614.649.767; e pelo Rio Grande do Sul, com US$ 108.252,426. “No Sul do Brasil, toda madeira beneficiada é madeira plantada para esse fim. Somos os maiores exportadores. Temos que quebrar o paradigma de quem usa o madeireiro segue aquele modelo extrativista do século passado. O que nosso setor representa para os empregos e para o PIB é algo muito significativo”, aponta o vice-presidente da Fiep.

Ele defende a necessidade de políticas públicas voltadas ao setor para incentivar o consumo de madeira para construção de casas no Brasil. “Nosso consumo interno tem que aumentar. Só há ganhos porque, com o aumento de árvores plantadas, aumenta a absorção de CO², o que contribui para diminuir o aquecimento global”, completa Marini.

O setor madeireiro planta 1,8 milhão de árvores por dia no Brasil, dando origem a uma grande lista de produtos de fonte renovável, como celulose, papéis, embalagens, painéis de madeira e pisos laminados, conforme relatório da IBÁ.

A Região Sul tem 87% da área plantada com pinus no país, principal gênero utilizado no processamento de madeira para multiprodutos. O setor registrou 15.661 empregos diretos em janeiro de 2025, nos três estados do sul do Brasil, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

União Europeia acusa Brasil de dumping no setor de compensados

Na última quinta-feira (13), pelo menos 90% dos produtores de madeira compensada do Sul do Brasil participaram de uma reunião em União da Vitória (PR). Além de discutirem estratégias para a possível sobretaxa dos EUA, outro problema foi apresentado.

A Secretaria de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, foi notificada de um processo de dumping movido pela União Europeia sobre o setor madeireiro do Brasil. A legislação anti-dumping é um instrumento de defesa comercial que a União Europeia usa contra possíveis práticas comerciais desleais.

O objetivo dessa política seria proteger empresas e postos de trabalho europeus. A União Europeia promove o livre comércio, porém, pode restringir parceiros comerciais que subsidiem seus produtos ou quando os produzem em excesso e vendem a preços reduzidos.

Representantes do setor nacional decidiram contratar um escritório especialista em ação de dumping para a defesa, com o objetivo de evitar uma possível sobretaxação. A investigação europeia pode durar um ano.

“Foi uma surpresa. O mundo realmente está mais nacionalista. A globalização parece ceder espaço para um novo pensamento – cada um defendendo de forma mais escancarada o seu espaço. Acreditamos que o argumento não é coerente, o que está sendo apontado não é real”, relata Marini.

O empresário do setor Tomaselli acrescenta que, até o momento, sabe-se pouco sobre a ação. “Mas é algo que vai incomodar. É impossível dimensionar, vai ser um processo longo, mas não acredito que seja efetivamente comprovado”, afirma ele.