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Florestas plantadas: a nova fronteira econômica no mercado de carbono

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Historicamente associadas à produção de papel, celulose e madeira para construção, as florestas plantadas estão assumindo um novo protagonismo. Em meio à crescente pressão por ações efetivas contra as mudanças climáticas, essas áreas reflorestadas passaram a ser vistas como importantes sumidouros de carbono e fontes promissoras de créditos de carbono – instrumentos usados por empresas para compensar suas emissões de gases de efeito estufa.

Combinando viabilidade econômica e impacto ambiental positivo, o modelo ganha força no Brasil. Espécies como eucalipto e pinus, cultivadas de forma sustentável, apresentam alta eficiência na captura de dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera. O carbono é armazenado na biomassa da planta – troncos, galhos, folhas e raízes – e, quando adequadamente mensurado e certificado, pode ser convertido em créditos negociados nos mercados voluntário ou regulado.

Uma floresta, duas fontes de renda

Mesmo sendo colhidas ao final do ciclo produtivo, as florestas comerciais continuam aptas a gerar créditos de carbono. O sequestro ocorre durante o crescimento das árvores, e os modelos de certificação consideram práticas de corte e replantio contínuos. Quando a madeira é utilizada em construções ou móveis, o carbono permanece estocado por décadas fora do ambiente florestal.

Isso significa que, além da venda da madeira, o produtor pode obter uma segunda fonte de receita: a comercialização de créditos de carbono. Em projetos bem estruturados, estima-se que esses créditos possam representar até 30% da rentabilidade total por hectare. É a integração entre conservação ambiental e retorno financeiro.

Caminho técnico e certificações

Para que uma floresta seja considerada elegível à geração de créditos de carbono, é necessário seguir protocolos rigorosos de certificação. Entre os mais reconhecidos mundialmente estão o Verified Carbon Standard (VCS), da Verra, e o Gold Standard, criado por organizações como o WWF. No Brasil, também ganham destaque o GHG Protocol, o Sistema Brasileiro de Registro de Emissões (SBRE) e certificações desenvolvidas por universidades e entidades técnicas nacionais, mais acessíveis para pequenos e médios produtores.

O processo inclui inventário florestal, cálculo de biomassa, auditorias independentes e registro em plataformas digitais. A regulamentação do setor está em expansão. O Projeto de Lei nº 412/2022, que institui o Marco Legal do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE), está em discussão no Congresso e deve abrir as portas para o mercado regulado de carbono no país.

Escolha da espécie importa

Nem todas as florestas capturam carbono da mesma forma. Espécies de crescimento rápido, como o eucalipto, acumulam grandes volumes de biomassa em pouco tempo. Já o pinus se adapta melhor a climas mais frios. Florestas com espécies nativas, embora menos produtivas em volume, são valorizadas por seus benefícios ecológicos, como a restauração de áreas degradadas.

Como funciona na prática? Um exemplo de sucesso

Na região do Vale do Jequitinhonha (MG), um consórcio de pequenos produtores iniciou um projeto coletivo de reflorestamento com eucalipto certificado. Com apoio técnico de uma ONG, eles conseguiram a certificação VCS e, em três anos, venderam mais de 60 mil toneladas de CO₂ equivalente no mercado voluntário, arrecadando cerca de R$ 2,4 milhões. Além da renda extra, o projeto impulsionou a recuperação de nascentes e a geração de empregos locais.

Quem compra créditos de carbono?

Setores altamente emissores – como transporte, energia e indústria pesada – lideram a compra de créditos como forma de neutralizar suas emissões e atender compromissos ambientais. Companhias com políticas ESG (ambiental, social e governança) também utilizam os créditos para reforçar sua imagem e atrair investidores.

Plataformas de tecnologia climática e fundos de investimento sustentáveis enxergam nos projetos florestais uma oportunidade de impacto positivo e retorno financeiro a médio e longo prazo.

E os riscos?

A eficácia do mercado de carbono é tema de debate. Embora parte da comunidade científica alerte para o risco de “greenwashing” – quando empresas compensam suas emissões sem reduzir efetivamente sua poluição –, especialistas defendem que, quando bem estruturados, os projetos florestais oferecem benefícios concretos: captura de CO₂, recuperação ambiental, geração de emprego e renda.

No entanto, há riscos socioambientais relevantes: falta de regulamentação pode favorecer especulação, exclusão de pequenos produtores, grilagem e uso inapropriado de territórios tradicionais. É fundamental que os projetos sejam conduzidos com transparência, consentimento das comunidades e mecanismos de distribuição justa dos benefícios.

E os pequenos produtores?

Ainda dominado por grandes empresas, o mercado de carbono começa a se abrir para pequenos produtores rurais. Iniciativas como consórcios, cooperativas e programas de apoio técnico têm permitido a inclusão desses atores no mercado verde. Projetos coletivos possibilitam redução de custos com certificação e maior escala de atuação.

Governos e organizações do terceiro setor também têm papel fundamental no fomento e na capacitação técnica, garantindo que a transição ecológica seja inclusiva e socialmente justa.

Quer entrar nesse mercado? Veja por onde começar:

  • Buscar apoio de consultorias ambientais especializadas;
  • Realizar inventários florestais e estudos de elegibilidade;
  • Avaliar padrões de certificação adequados ao porte do projeto;
  • Estabelecer parcerias com cooperativas ou programas de fomento;
  • Manter registros detalhados para fins de monitoramento e auditoria.

Dados que revelam o potencial: florestas plantadas e créditos em números

O Brasil possui atualmente cerca de 10,4 milhões de hectares de florestas plantadas, segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). Apenas em 2023, esse setor foi responsável por 1,2% do PIB nacional, movimentando mais de R$ 130 bilhões. As principais espécies cultivadas são o eucalipto (76%) e o pinus (20%), com forte concentração nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Bahia.

O mercado voluntário de carbono cresceu mais de 170% no Brasil entre 2020 e 2023, com destaque para iniciativas florestais. Globalmente, movimentou mais de US$ 2 bilhões em 2023. Estudos apontam que, com regulação adequada, a contribuição do setor ao PIB pode dobrar até 2030, superando 2,5%, com geração de empregos verdes e atração de investimentos internacionais.

Apenas as florestas plantadas podem capturar entre 30 e 50 milhões de toneladas de CO₂ por ano, representando bilhões em créditos no mercado internacional.

O futuro que se planta hoje

As florestas que antes produziam apenas madeira agora também “produzem clima” – e isso muda tudo. Combinando responsabilidade ambiental, inovação tecnológica e viabilidade econômica, a silvicultura brasileira se consolida como um pilar estratégico para o desenvolvimento sustentável do país.