A FAO acaba de lançar o relatório “Estado do Conhecimento da Biodiversidade do Solo“, um grande esforço mundial de síntese e da importância das contribuições da biodiversidade do solo para os ecossistemas terrestres e o ser humano. Mais de 300 pesquisadores do mundo inteiro examinam o potencial dos organismos do solo para auxiliar na provisão de serviços ambientais incluindo a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares e mitigação das mudanças climáticas. O documento foi lançado em 05/12, quando foi comemorado o Dia Mundial do Solo, que teve como tema discutido no mundo inteiro “Manter o solo vivo, proteger sua biodiversidade”.
São mais de 600 páginas divididas em sete capítulos que tratam de diversos temas (veja texto aqui). O Capítulo 4 trata das ameaças à biodiversidade em nível global e regional, e foi coordenado por pesquisadores brasileiros: o pesquisador George Brown, da Embrapa Florestas, em parceria com o Prof. Miguel Cooper, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), e Monica Kobayashi, da FAO-GSP (Global Soil Partnership), que contaram com mais de 40 colaboradores de diversos países. Outros capítulos também contaram com a colaboração de pesquisadores brasileiros. O pesquisador George Brown e Miguel Cooper participaram, também, da equipe que coordenou as equipes de trabalho da publicação.
O estudo detectou e descreveu 16 ameaças: desmatamento, urbanização, intensificação da agricultura, perda de matéria orgânica ou carbono orgânico do solo, compactação, selamento superficial, acidificação do solo, desbalanços nutricionais, contaminação ou poluição do solo, salinização, fogo, erosão, deslizamentos de terra, mudanças climáticas, espécies invasoras e desertificação. “Todas essas ameaças ocorrem em diferentes graus e importância para a biodiversidade do solo, em diferentes locais”, relata Brown. “Mas a mais comum é a perda de matéria orgânica do solo, que é uma das principais fontes de alimento para os organismos que ali vivem”, completa. No entanto, também existem interações entre diversas ameaças, o que gera efeitos sinérgicos maiores do que sua ocorrência isolada. “Desmatamento, intensificação da agricultura, fogo, erosão, são ameaças que potencializam a perda de matéria orgânica do solo”, exemplifica o pesquisador. O relatório também situa as ameaças e seus impactos em diferentes partes do mundo.
Estas ameaças representam importantes limitações para a vida no solo e para o solo em si e precisam ser combatidas, de forma a proteger os solos, sua biodiversidade e suas funções benéficas. “O solo é uma fina e frágil camada na crosta terrestre, um pouco como nossa própria pele, e precisa ser protegido”, explica Brown. “Milhões de espécies habitam o solo”, lembra o pesquisador. “Uma colher de chá de solo pode ter uma quantidade maior de organismos do que o planeta Terra tem de pessoas”, exemplifica. O pesquisador lembra que o solo abriga cerca de 25% da biodiversidade do planeta e que 40% das espécies conhecidas estão associados ao solo durante seu ciclo de vida. Existe, ainda, uma diversidade de espécies que vivem no solo e são desconhecidas, que necessitam ser catalogadas e estudadas, para serem compreendidas sua atuação nos ecossistemas, e promover sua conservação e uso de forma sustentável. “Muitos já são utilizados para o bem estar humano, mas existe uma série de oportunidades ao conhecermos melhor estes organismos e suas funções”, finaliza Brown.
Informações da FAO
Os organismos do solo desempenham um papel essencial no aumento da produção de alimentos, melhoria da dieta humana, preservação da saúde humana, recuperação de locais contaminados e combate às mudanças climáticas, mas sua contribuição permanece amplamente subestimada.
Apesar da perda de biodiversidade estar entre as principais preocupações globais, a biodiversidade do solo não recebe a importância que merece e deve ser levada em consideração no planejamento do manejo e uso da terra para promover o desenvolvimento sustentável.