Sala de Imprensa

Do pinus ao pixel, o futuro sustentável que brota no Sul do Brasil

Em tempos de emergência climática, descarbonização da economia e busca por soluções sustentáveis, a floresta plantada emerge como uma das respostas mais potentes — e, até pouco tempo atrás, invisíveis. No Sul do Brasil, dois estados protagonizam uma revolução silenciosa. Paraná e Rio Grande do Sul transformam áreas cultivadas com eucalipto, pinus, acácia e até espécies nativas em ecossistemas altamente tecnológicos, produtivos e inovadores.

Ali, a floresta é fábrica, laboratório, infraestrutura e estratégia de futuro, tudo ao mesmo tempo. No Paraná, o setor florestal é responsável por cerca de 25% do volume da produção nacional de madeira para fins industriais, o equivalente a 37,3 milhões de metros cúbicos, segundo a Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE). São mais de 1,3 milhão de hectares cultivados, movimentando uma cadeia econômica bilionária e gerando mais de 300 mil postos de trabalho, reforça o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (Iapar- Emater).

Mas o que mais impressiona não são os números e, sim, a sofisticação com que essa floresta é operada. No estado, startups, grandes empresas e centros de pesquisa convergem para um modelo de produção baseado em dados, sensores e Inteligência Artificial (IA). No coração dessa transformação está o conceito de floresta plantada, definido pela Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná (Fupef) como uma “área florestal contínua composta por espécies nativas ou exóticas, estabelecida por sementes ou material vegetativo, manejada para fins econômicos, sociais e ambientais”. A definição ajuda a desmistificar a ideia de monocultura, mostrando que, no Brasil, a silvicultura moderna combina tecnologia, biodiversidade e conservação.

Os números reforçam a relevância. Segundo a Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), o país tem 9,94 milhões de hectares de plantios florestais, com pinus e eucalipto como espécies predominantes. Em média, o setor planta 1,8 milhão de árvores por dia. Globalmente, as florestas plantadas somam 294 milhões de hectares, 7% da área florestal do planeta. O Brasil ocupa a sétima posição no ranking mundial e desponta como potência da bioeconomia.

O Paraná é um dos protagonistas dessa história. No caso do pinus, a liderança é ainda mais clara: 55% de toda a produção nacional sai das terras paranaenses. O resultado é uma indústria diversificada, que abastece desde a construção civil até o setor de papel e celulose, passando por móveis, embalagens e bioprodutos. Estamos falando de uma floresta que é, ao mesmo tempo, produtiva e tecnológica.

Tokenização
A ForestToken Digital Assets, de Curitiba, desenvolveu a plataforma ForestChain, que tokeniza ativos florestais e transforma contratos de compra, venda ou arrendamento em NFTs vinculados a propriedades georreferenciadas. O uso de blockchain garante rastreabilidade, governança e segurança jurídica, enquanto o sensoriamento remoto permite monitorar áreas em tempo real.

Essa digitalização reduz riscos regulatórios e operacionais e abre o setor a novos perfis de investidores. “Com a tokenização, é possível fracionar ativos e permitir que fundos, cooperativas e até pequenos investidores participem com segurança e liquidez”, explica Ronaldo Pereira, head comercial da empresa. A solução também fortalece a agenda ambiental, já que o monitoramento via satélite evita desmatamentos não autorizados e permite auditorias ambientais automatizadas.

Na prática, a ForestChain substitui a lógica tradicional de contratos informais e planilhas descentralizadas por uma jornada totalmente digital, que vai da qualificação fundiária ao pagamento automatizado via smart contracts. Com base no blockchain Hyperledger Besu e no monitoramento via ForestGIS, a plataforma integra indicadores ambientais, operacionais e contratuais em tempo real, aumentando a atratividade dos ativos florestais para investidores institucionais.

O caminho até aqui envolveu superar barreiras regulatórias, técnicas e culturais. A estratégia da empresa foi criar um ecossistema modular, com onboarding gradual, versões gratuitas de acesso e suporte consultivo. Casos reais de automação contratual e auditorias digitais têm ajudado a consolidar a confiança no modelo.

Além de ampliar a transparência e a governança, a tecnologia contribui diretamente para a conservação ambiental e para a inclusão produtiva. O módulo ForestTracker, em desenvolvimento, garantirá rastreabilidade da madeira em toda a cadeia de custódia, enquanto a digitalização com IA Arbor permitirá relatórios ESG em tempo real.

“Para investidores menores, o fracionamento dos contratos representa uma oportunidade inédita de acessar o mercado florestal com segurança e liquidez, conectando pequenos produtores a grandes compradores e reforçando o caráter inclusivo da bioeconomia”, conclui Ronaldo Pereira.

A inovação não se restringe ao campo financeiro. Também na capital paranaense, a startup Mapforest desenvolveu a plataforma Eyeforest, voltada para democratizar o acesso à gestão florestal. “Criamos uma ferramenta SaS mais acessível e customizável que os softwares equivalentes de mercado”, afirma Marcelo Schmid, sócio-diretor do Grupo Index. Segundo ele, a tecnologia integra dados geoespaciais e analíticos, usa blockchain para gestão de contratos e incorpora Inteligência Artificial para agilizar relatórios e auditorias digitais.

De forma concreta, isso significa transformar relatórios estáticos em sistemas dinâmicos de análise. “Um estudo de mercado que antes era uma fotografia estática passa a ser algo muito mais interativo. Combinado à IA interativa, o estudo permitirá aos nossos clientes fazerem uma análise muito mais apurada e extraírem o máximo de nossos dados”, completa Schmid. A tendência mostra como a floresta plantada deixa de ser apenas um ativo físico para se tornar um ecossistema de dados e inteligência.

Com isso, é possível monitorar o crescimento das árvores, identificar riscos como pragas ou doenças, otimizar colheitas e gerenciar contratos de forma rastreável e confiável. Para pequenos e médios empreendedores, a tecnologia democratiza o acesso a ferramentas avançadas, enquanto para grandes empresas promove eficiência operacional e sustentabilidade, tornando o manejo florestal mais estratégico, inteligente e ambientalmente responsável.

Essa integração entre inovação digital e práticas de manejo abre caminho para que a floresta plantada se destaque também pelo seu impacto ambiental e social. Apenas as empresas associadas à APRE mantêm 481 mil hectares de áreas conservadas. Isso representa praticamente um hectare de floresta nativa preservada para cada hectare de plantio. A lógica é clara: plantar, colher e replantar, sempre garantindo a manutenção dos serviços ecossistêmicos.
O setor florestal também impacta diretamente a sociedade. O Paraná concentra 16,5% de todos os empregos do segmento no Brasil. São trabalhadores que atuam desde os viveiros de mudas até a exportação de produtos industrializados. Além disso, a diversificação da produção permite atender a múltiplas cadeias, reduzindo riscos econômicos e garantindo resiliência às comunidades.

Entre florestas, resinas e butiazais: o mosaico produtivo do RS
No Rio Grande do Sul, a trajetória segue caminho semelhante, mas com características próprias. Se no Paraná o protagonismo está na alta mecanização e na digitalização, no estado gaúcho o destaque é a multiplicidade de usos das florestas cultivadas. O estado abriga 974 mil hectares plantados, e deles saem produtos tão diversos quanto carvão vegetal, tanino, madeira serrada, resinas, alimentos e até cosméticos.

Em Capivari do Sul, a Resinas Jardim é exemplo de como a inovação pode transformar setores tradicionais. O projeto RJV200 nasceu da necessidade de eliminar o esforço físico do tombamento manual de tambores de resina, que chegava a 16 toneladas por turno por trabalhador. “Nossa prioridade era eliminar riscos ergonômicos e, ao mesmo tempo, aumentar a produtividade. Com o RJV200, conseguimos as duas coisas de uma vez”, conta Israel Jardim, da diretoria. Hoje, um único operador processa até 80 toneladas por turno, quintuplicando a capacidade anterior.

Construído com motorredutores e polias robustas, o equipamento mecanizado padronizou e automatizou uma operação historicamente pesada, reduzindo custos em até 60% e praticamente zerando incidentes de saúde ocupacional. Mas os avanços não pararam aí. A empresa integrou sensores, sistemas digitais e aplicativos que conectam produção, qualidade, logística e até suporte técnico por WhatsApp, em tempo real.

Ferramentas como o supervisor de destilação online e a análise de cor Gardner com IA eliminaram o uso de solventes tóxicos, tornando o processo mais seguro e sustentável. E consultores digitais no WhatsApp democratizaram o acesso ao conhecimento técnico, acelerando a curva de aprendizado de novos trabalhadores. “É um exemplo de como a tecnologia pode ser, ao mesmo tempo, mais segura, mais sustentável e mais eficiente”, destaca Jardim.

Essas inovações fortaleceram a posição da empresa no mercado global de pine chemicals, segmento da química verde em franco crescimento. Hoje, a Resinas Jardim produz 700 toneladas mensais de breu e 152 toneladas de terebintina, insumos usados em cosméticos, adesivos e farmacêuticos. “Já conseguimos oferecer produtos com até 50% menos emissões de carbono em relação a equivalentes petroquímicos. Nosso objetivo é consolidar o Rio Grande do Sul como um hub latino-americano de resinas sustentáveis nos próximos anos”, projeta o executivo.

Além da inovação tecnológica, a sustentabilidade é pilar central. A empresa opera com zero descarte líquido de efluentes, reutiliza 100% da água do processo em fertirrigação e pratica economia circular ao destinar resíduos orgânicos como adubo para as próprias florestas. A rastreabilidade de ponta a ponta da cadeia é outro diferencial, cada vez mais valorizado por clientes internacionais.

Fonte: Conexão Safra