O tema “Contexto e tendências do mercado da madeira” foi o primeiro assunto tratado pelo painel Gestão e Negócios, do dia 10/8, no 9º Workshop Embrapa Florestas/Apre. O palestrante Jefferson Bueno Mendes, da BM2C Consultoria, apresentou os principais dados de um recente levantamento realizado por sua empresa. Para o estudo, foram analisadas imagens dos últimos 20 anos para entender a dinâmica do plantio de eucalipto e pínus no Sul do Brasil, desde o sul de São Paulo ao Norte Rio Grande do Sul.
Jefferson Mendes fez uma análise do contexto de suprimento de madeira, referente aos anos de 2020 e 2021, e suas perspectivas de futuro, analisando também os preços atuais e como vão ficar a médio prazo. “A demanda atual de pínus no Sul do Brasil é estimada em 54,8 milhões de metros cúbicos por ano. Com o início dos novos projetos industriais em andamento, a demanda total deverá subir para 57,6 milhões de metros cúbicos/ano, a partir de 2022. Da demanda total, 19,6 milhões/ano (34%) serão para celulose e 38 milhões (66%) para madeira serrada”, aponta.
Esse crescimento da demanda se deveu principalmente ao aumento das exportações de madeira serrada, moldura e compensado, que foi de 16% entre 2019 e 2020, principalmente pelo efeito do aumento da dinamização do mercado de housing (construção de casas) e dos investimentos realizados pelas famílias para equipar suas residências devido à pandemia.
Mendes comentou sobre o quadro favorável trazido nos últimos dois anos, que beneficiou as empresas, bem como suas exportações, porém, com mudanças em vista. “Em 2022 nós teríamos um quadro um pouquinho mais apertado, se mantidas as condições atuais de demanda que acreditamos que não vão ficar assim. O déficit atual de 2021 aumentaria para 5,5 milhões, mais ou menos equivalente a 10,5% da oferta sustentável. O que não é sustentável, logicamente, no médio prazo”, diz o consultor.
“Hoje também acreditamos que no médio prazo alguns players vão ter que sair do mercado, então, pelas nossas análises, acreditamos que a demanda vai voltar ao seu curso normal, não só pela questão do balanço de madeira, mas também por alguns fatores econômicos”, diz.
No entanto, para Mendes, isso não significaria um déficit em toda região da indústria da madeira, organizada em nove subclusters, que interagem intensamente na oferta e procura, mas diferem entre si quanto ao seu perfil industrial. “É importante destacar que vai haver clusters com déficit, que vão estar importando madeira de outros clusters mais longe e isso é uma coisa normal. O Vale do Ribeira vai continuar exportando madeira, o norte do Rio Grande do Sul também, quer dizer, são situações que vão mudar de cluster para cluster”, aponta.
Além destas projeções do cenário pós-pandemia, Jeferson Mendes prevê um aumento significativo dos custos de exportação, “principalmente devido ao custo de frete e à desorganização da cadeia produtiva, especialmente no que se refere à logística, pois faltam containers, capacidade de porto, estrutura e organização e isso tem impactado negativamente as exportações”, pontua o consultor.
Já com relação à oferta, há a tendência de aumento no curto prazo, de 52 para 53 milhões de metros cúbicos/ano, pois as empresas e produtores florestais estão aproveitando o bom momento econômico para colher suas florestas. Novos plantios florestais estão sendo realizados para garantir suprimento futuro, mas o estudo realizado por Mendes verificou uma maior concentração da área plantada atual com florestas jovens, o que poderá ser um dos fatores que impactarão a oferta no curto/médio prazo.
Expectativas de preços da madeira
No cenário pós-pandemia, a demanda deverá reduzir, devido à normalização do housing, ao retorno das atividades industriais na Europa e Estados Unidos (cujo desaquecimento beneficiou a indústria no Brasil) e ao aumento dos custos de frete. Segundo Jefferson Mendes, tais fatores devem provocar a queda dos preços da madeira, mas espera-se que se mantenham em níveis superiores aos observados no período anterior à pandemia, devido aos ajustes esperados na oferta de curto/médio prazo, e à elevação dos custos de produção (combustíveis, fertilizantes, defensivos, terra, mão de obra e capital).
Foto: Captura de tela – Workshop Embrapa Florestas/Apre