O presidente-executivo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Paulo Hartung, publicou um artigo na CNN Brasil em que destaca que as florestas são o futuro. Segundo ele, “o mundo precisa entender definitivamente que, se queremos embarcar rumo a um futuro sustentável, o preço da passagem é cuidar de nossas florestas com zelo sem precedentes”.
Confira o artigo completo abaixo:
Nossas florestas, nosso futuro*
Construir um futuro próspero depende da história que estamos escrevendo hoje. A conjuntura planetária impõe enormes desafios a serem enfrentados, mas que abrem algumas janelas de oportunidades para países que souberem fazer de suas florestas e riquezas ambientais fontes de crescimento sustentável.
O início da pandemia abalou a cadeia de suprimentos em âmbito global. O aumento da tensão entre China e Estados Unidos agrava tal cenário e a invasão russa à Ucrânia aprofunda a situação. Hoje, a alta inflação em todo o planeta e a instabilidade no sistema financeiro mundial são alguns dos impactos de todo este desarranjo.
Não bastasse esse quadro, as atuais gerações carregam, ainda, a responsabilidade de encontrar meios para lidar com a prioridade número um da humanidade: a crise climática.
Este retrato eleva a importância do Dia Internacional das Florestas, datado em 21 de março. O mundo precisa entender definitivamente que, se queremos embarcar rumo a um futuro sustentável, o preço da passagem é cuidar de nossas florestas com zelo sem precedentes.
Nesta jornada, o Brasil é uma das chaves para o êxito. Dono da maior floresta tropical e maior biodiversidade do planeta, o país também detém 12% da água doce do mundo. Precisamos saber aproveitar este potencial.
Há 50 anos, o país era importador de alimentos e hoje, após investimento em tecnologia e capacitação profissional, alimentamos cerca de 10% da população mundial. Segundo a Universidade Federal de Goiás, o Brasil tem 88 milhões de hectares de terras com algum nível de degradação, que poderiam ser o berço para crescimento da agricultura moderna e apoiada pela ciência de ponta sem a necessidade de derrubar florestas nativas.
A descarbonização também passa pela urgente tarefa de deixar para trás fontes fósseis para geração de energia. Hoje o Brasil já possui uma matriz energética diferenciada. Além disso, possui ventos constantes em diversas regiões, sol e uma experiência exitosa com biomassa, posicionando o país como um potencial fornecedor de energia limpa para o mundo.
Nesta caminhada, no entanto, não podemos nos esquivar de tarefas fundamentais, como o combate a crimes ambientais. Desmatamento ilegal, grilagem, queimadas, entre outras violações, não devem mais ser tolerados. O caminho nós já conhecemos, pois já formulamos soluções quando, após a Rio-92, criamos o Ibama, o Ministério do Meio Ambiente e investimos em comando e controle.
A boa notícia é que os ventos da contemporaneidade estão a nosso favor. Se o Brasil abraçar, de fato, a economia verde, teremos a chance de nos tornarmos um polo de inovação sustentável. Segundo a Associação Brasileira de Bioinovação, a implementação plena da bioeconomia no país poderia gerar um incremento no faturamento industrial na ordem de US$ 284 bilhões por ano. É a chance também de promover melhorias socioeconômicas nas vidas de boa parte de 25 milhões de brasileiras e brasileiros que vivem na região amazônica e sofrem com falta de saneamento básico, saúde precária, entre outras vergonhosas dificuldades.
Para além da Amazônia, há cases que podem inspirar. A indústria de biocombustíveis é um exemplo. Além de posicionar o Brasil como segundo maior produto mundial de etanol, exporta tecnologia para produção do etanol de segunda geração, que utiliza os resíduos descartados no processo. O setor de árvores cultivadas, por sua vez, é um modelo, pois trabalha com olhar para o uso inteligente da terra, respeito à natureza e cuidado com as pessoas.
Atualmente, planta, colhe e replanta em terras antes degradadas, que totalizam 9,93 milhões de hectares. Nas mesmas fazendas, conserva mais 6,05 milhões de hectares de mata nativa, uma área maior do que o estado do Rio de Janeiro. Em uma técnica sustentável de manejo, chamada mosaico florestal, estas áreas são conectadas, criando verdadeiros corredores ecológicos. A partir da matéria-prima das árvores plantadas são produzidos itens de fonte renovável, recicláveis e biodegradáveis, como embalagens de papel, tecidos, fraldas, livros, lenços, painéis de madeira, entre outros.
Não podemos esquecer que para aproveitar em sua plenitude o potencial natural, é preciso que o país se organize sob o ponto de vista fiscal e trabalhe para garantir segurança jurídica. Isto é condição primeira para atrair investidores internacionais, dando fôlego para avanços ambientais.
As chances estão à nossa mesa. Que este Dia da Floresta vá além da reflexão e estimule ações concretas. De políticas públicas que incentivem a economia verde ao trabalho realmente baseado em ESG da iniciativa privada. Os mais jovens anseiam pelo trilhar deste caminho, não apenas como consumidores, mas também como cidadãos preocupados com o futuro.
Trata-se de oportunidade para o país recuperar seu papel de cooperação ambiental e fazer da floresta sua fortaleza e consolidando-a, de vez, como requisito para um planeta saudável.
*Paulo Hartung – Presidente-executivo da Ibá e ex-governador do Espírito Santo
Foto: Zig Kock – Banco de imagens APRE