No mapa da história, a pandemia do novo coronavírus já fixou um marco do antes e do depois. A maior crise vivida pelas atuais gerações, com impactos decisivos à vida no futuro, na visão de Henry Kissinger, enseja uma nova ordem mundial.
A tragédia global das mortes diárias contadas aos milhares, a paralisação ou redução de muitas atividades produtivas, as regras de distanciamento social e quarentena, entre outras dramáticas consequências da pandemia implicam desdobramentos sociais e econômicos desafiantes.
Como toda crise, esta tem três forças: aprendizados, oportunidades e finitude. A partir das lições do enfrentamento do novo coronavírus, temos a possibilidade/necessidade de repensar um outro paradigma socioeconômico, visando à transição a um outro tempo pós-pandemia, que seja essencialmente comprometido com os valores humanísticos, socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável.
A gestão desse momento de crise e as ações de mitigação de efeitos sociais da pandemia são uma evidência de que as empresas de base florestal estão prontas não apenas para enfrentar os desafios deste presente crítico, como também mostram-se aptas ao necessário redesenho do futuro.
Apesar de serem grandes empresas, com mais de 2 milhões de postos de trabalhos diretos e indiretos, essas empresas foram ágeis na promoção de mudanças de operação que o momento atual exige.
Foram alterações rápidas no cotidiano, tanto com a digitalização e trabalho remoto de parte de escritório, quanto nas operações nas fábricas, nas florestas cultivadas, no transporte dos funcionários e no cuidado na hora da alimentação desses colaboradores.
No entanto, no enfrentamento dessa crise, mais que ajustar a condução do presente, emergem condutas e lógicas que devem se estabelecer como práticas corriqueiras a sustentar um novo modelo socioeconômico, baseado também na solidariedade e na responsabilidade social.
O setor de árvores plantadas incrementou suas ações colaborativas, exercitando e fortalecendo um traço de sua cultura empresarial. As ações dinamizadas pelo compromisso social incluem doações e aportes de várias naturezas, desde equipamentos necessários ao cuidado de pacientes e à proteção e segurança de equipes saúde, passando por itens de higiene e insumos para criação de leitos, até produtos do dia a dia e cestas básicas, essenciais para comunidades nos entornos das operações.
As ações estão presentes em diversas partes do Brasil, incluindo Estados como Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Bahia, Maranhão e Pará.
Bracell, Cenibra, CMPC (e sua subsidiária Softys), Duratex, Gerdau, Ibema, International Paper, Klabin, Suzano, Veracel e Westrock investiram, pelo menos, R$114 milhões em ações que beneficiam brasileiros em todo o território. Para exemplificar a dimensão desse movimento, Klabin e Suzano se juntaram a outras companhias e ao Ministério da Saúde para fabricação, no Brasil, de 6.500 respiradores. A Veracel junto com a Suzano está a montando de um hospital de campanha na cidade de Teixeira de Freitas (BA), que contará com 20 leitos de UTI. A CMPC, por meio de sua subsidiária Softys, investiu R$ 5 milhões para aquisição de duas máquinas que produzirão 4,5 milhões de máscaras que serão doadas. A Gerdau está aportando recursos, doando aço e emprestando sua expertise para expansão de leitos em um hospital de campanha três hospitais de Minas Gerais e um em São Paulo.
Apostando na bioeconomia, este é um setor que não se restringe aos seus muros e há anos se entende como parte de um ecossistema que interage diretamente com as comunidades do entorno, com os colaboradores e familiares, com o meio ambiente e como parte da solução de uma economia mais saudável para o mundo, com base em origem renovável, reciclável e reutilizável.
Nesse sentido, também é importante ressaltar que o ponto de inflexão na economia, desencadeado pelas respostas à Covid-19, abre a oportunidade para a revalorização dos produtos e soluções de base florestal, que agregam ganhos de altos e intensos investimentos tecnológicos, habilitando-se a novos usos e à substituição de materiais de base fóssil.
Outro aprendizado é ofertado pela repórter especial do Valor Econômico, Daniela Chiaretti, em artigo do dia 20/04, com dados do Global Carbon Project que indicam que a desaceleração econômica mundial decorrente da crise do coronavírus pode gerar uma redução anual de 5% das emissões mundiais de gases do efeito estufa. Comparativamente, na crise financeira de 2008, a queda foi de 1,4%. Mas, ao contrário do que ocorreu anteriormente, registrando-se aumento de emissões de 5,1% no pós-crise, agora podemos e devemos investir em bioeconomia como o novo padrão produtivo planetário.
A dramática crise do presente, com suas demandas e também com as respostas dadas a seus desafios, evidencia que o futuro de hoje já não mais corresponde ao horizonte que vislumbrávamos recentemente. Precisamos todos, consumidores, trabalhadores, empreendedores, cidadãos, enfim, os países, repensar como reconstruiremos o mundo.
Solidariedade, cooperação, corresponsabilidade socioeconômica e sustentabilidade devem se colocar como forças fundamentais para dinamizar e orientar as novas formas de viver que teremos de inventar na nova ordem global que ora se impõe.
(*) Paulo Hartung é Economista, presidente-executivo Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), membro do conselho do Todos Pela Educação, ex-governador do Estado do Espírito Santo (2003-2010/2015-2018) / (Foto: Roberta Namour)
Fonte: Ibá