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9º Workshop Embrapa Florestas/APRE: setor florestal teve um bom crescimento, mas precisa olhar para o potencial que tem para o futuro

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Para analisar o mercado mundial para a madeira de florestas plantadas e destacar as oportunidades, o último painel do Workshop Embrapa Florestas/APRE, que discutiu “As florestas e a indústria de transformação”, teve a participação do empresário Armando Giacomet, sócio-diretor da Braspine. Logo no início da apresentação, ele lembrou que o Paraná dispõe, hoje, “do mais completo cluster de produtos derivados da madeira do país”. “Produzimos madeira serrada, compensados, portas, móveis. Toras de menor diâmetro também. Enfim, tudo o que existe na indústria madeireira é produzido aqui no Estado. É uma cadeia completíssima. Precisamos abastecer esse cluster, e esse é o grande desafio”, apontou.

Na avaliação do empresário, as mudanças de estratégia e de planejamentos de manejo florestal forçaram a indústria de processamento a se ajustar e a se adaptar à dinâmica, “saindo da caixa” em relação ao modelo tradicional. Segundo ele, nos últimos 10 ou 15 anos, o setor florestal viveu uma verdadeira revolução em equipamentos, demandas, topografias, espécies, manejos, logística etc. E essa evolução estimulou a criação de diferentes modelos, com desenvolvimento e implementação de novas técnicas, o que ajudou a recuperar a imagem da utilização da madeira como insumo da construção civil.

“Por décadas, falava-se que a prosperidade de uma família era construir uma casa de ‘material’. A madeira ficou relegada a sinônimo de pobreza, de baixo valor agregado. Mas, hoje, estamos vendo surgirem técnicas construtivas. E essa tecnologia de construção, já consagrada nos EUA e na Europa, está em fase de desenvolvimento no Brasil. Agora, temos o grande desafio e, ao mesmo tempo, uma excelente oportunidade de viver uma grandiosidade similar ao setor agrícola, que pode nos levar ao topo dessa cadeia produtiva e nos transformar em líderes mundiais na oferta de produtos florestais. Estamos chegando a nove milhões de hectares de florestas plantadas e temos espaço para maximizar a nossa atividade”, ressaltou.

Exportação

Durante a palestra, Armando Giacomet apresentou alguns dados de exportação do setor florestal para falar sobre as oportunidades. Na parte de molduras, existe uma enorme demanda do mercado americano. Segundo ele, esse não é um segmento grande em termos de volume, mas possui um bom valor agregado, e o Brasil é um player importante. Ele lembra que, em 2020, o país sofreu, assim como a China, um processo de antidumping, movido por uma coalização de produtores americanos contra a suposta prática de dumping. Depois de quase um ano, veio a decisão definitiva de que a China era realmente praticante do dumping e que o Brasil não realizava nenhuma prática desleal de mercado. A partir daí, houve um crescimento da participação do Brasil.

“Representamos 1/4 do fornecimento internacional e, por isso, focamos nesse segmento. A China apresenta um decréscimo perene desde a decisão final do antidumping. Em contrapartida, verificamos um crescimento forte do Sudeste da Ásia, países que absorveram a produção originária da China e que, a meu ver, vão nos custar caro no futuro. Isso porque tínhamos um tipo de concorrência com a China, mas isso se pulverizou para outros países. Então, o Brasil terá dificuldade com essa ‘disputa’ pelo mercado americano”, avaliou.

No mercado de madeira serrada, o palestrante citou que, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Brasil produz aproximadamente 7,8 milhões de metros cúbicos, com uma exportação de 3,7 milhões. Para ele, os números mostram que há espaço para crescer.

“Acabamos fornecendo um produto de baixo valor agregado. Isso é uma resposta a um planejamento de manejo da floresta que não fizemos lá atrás, e nos tornamos competidores numa faixa mais básica de produtos. Defendemos, de forma veemente, um bom manejo florestal – saber para aquilo que se quer plantar. Para agregação de valor, bom manejo é fundamental. É preciso enxergar o que vamos querer fazer daqui a 20 anos, para que possamos planejar hoje. Assim, poderemos almejar participar de um mercado de maior valor agregado”, reforçou.

Giacomet também analisou o compensado, grande player na pauta de exportações do Brasil. No mundo, são produzidos 186 milhões de metros cúbicos, com importação na casa de 27 milhões. O Brasil exporta 2,5 milhões de metros cúbicos. Segundo ele, “uma participação bastante ínfima, mesmo em produtos de menor valor agregado”.

Em seguida, ele falou sobre pellets, OSB e móveis de madeira. Na parte de pellets, o país passou a ter maior significância no mercado nos últimos três ou quatro anos. O empresário explicou que esse é um produto originário da serragem, direcionado para biocombustível e sujeito a grandes oscilações. “Um ano atrás, começávamos a fabricação de pellets. Depois da guerra, estamos exportando navios deles, num esforço conjunto de diversos produtos. É um material que, no futuro, tende a ser muito mais utilizado internamente. O desafio é possibilitar a logística. Exportamos 70% da nossa produção, mas, ainda, nossa participação no mundo é pequena”, disse.

Com relação ao OSB, ele apontou que, em âmbito nacional, a produção não tem um volume significativo, mas que o produto é competidor do compensado, um dos grandes players no mercado. A produção mundial é de quase 40 milhões de toneladas, e o Brasil exporta 180 mil toneladas. Para móveis de madeira, a importação no mundo é de 770 milhões de peças, com uma participação brasileira de 18 milhões.

Oportunidades

A partir da análise do mercado, Giacomet avaliou que o setor florestal teve, nos últimos anos, um bom crescimento, mas precisa olhar para o potencial que tem para o futuro.

“Fica a pergunta: por que somos pequenos? O que temos por fazer? Ouvimos falar em números, mas acredito que o efeito visual é impactante para pensarmos e repensarmos o nosso setor. Temos 1% do território nacional. Se reduzirmos isso a apenas um lugar, começando no Chuí, não chegaríamos nem à metade do Rio Grande do Sul em área plantada. Se tivéssemos os mesmos 4,3% de área plantada do Chile, saindo do Chuí, chegaríamos até o meio de Santa Catarina. Com a mesma área plantada da Nova Zelândia, 7,9%, teríamos florestas do Chuí até São Paulo. Pensando na área de floresta plantada da Alemanha, 16%, iriamos do Chuí até Minas Gerais. Esses são exemplos do tamanho do potencial que o nosso setor tem. Temos muito a mostrar – agregação de valor, aculturação, relação do homem e o campo, desenvolvimento das comunidades do entorno. Precisamos mostrar isso para a sociedade, aquilo que nós fazemos naturalmente. E, para fechar, há um ditado japonês que diz ‘o melhor momento para se plantar árvores foi há 20 anos; o segundo melhor momento é agora’. Vamos em frente”, completou.

O 9º Workshop é uma realização da APRE e da Embrapa Florestas, com patrocínio de Becomex, Lavoro/Florestal, Remsoft e Trimble; e apoio de Abimci, Associação Catarinense de Empresas Florestais (ACR), Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Sistema Fiep, Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná (Fupef), Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Unicentro Paraná e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Foto: Gabriela Quinsler