O setor florestal paranaense tem vivido um bom momento, com a demanda por madeira crescendo nos últimos anos. E, para dar conta desse aumento da procura, é preciso apostar em produtividade florestal para oferecer ao mercado uma matéria-prima com ainda mais qualidade. Para estimular o debate acerca do assunto, a Embrapa Florestas e a Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE) organizaram a nona edição de seu tradicional workshop. O evento começou na manhã desta quarta-feira, 03 de agosto, em Colombo (PR), com o painel “Setor florestal: posicionamento e geopolíticas”, e segue até quinta-feira (04).
Para a abertura, foram convidados o chefe-geral da Embrapa Florestas, Erich Schaitza, e o presidente da Apre, Zaid Ahmad Nasser, para falarem sobre o perfil multi-institucional do setor florestal paranaense. Ao dar as boas-vindas aos participantes, Schaitza lembrou que o Workshop Embrapa Florestas/APRE retornou ao modelo presencial depois de dois anos e reforçou que a troca de experiências é uma excelente oportunidade. Segundo ele, o futuro é incerto, mas tudo o que o setor planta hoje vai definir o futuro para os próximos anos. “Temos que oferecer bons empregos, ter gente feliz trabalhando. Mas só vamos conseguir isso se houver um consórcio entre todos nós do segmento florestal – empresas, ciência e tecnologia, academia, sociedade. É assim que conseguiremos entregar produtos que realmente façam diferença”, adiantou.
De acordo com o chefe-geral da Embrapa Florestas, o Paraná tem uma cadeia produtiva diversificada, assim como Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Por conta desse perfil “multimercado”, pesquisadores da Embrapa, em parceria com a APRE, conduziram um estudo para facilitar o acesso e a análise de dados e informações do setor de forma regionalizada. O trabalho está na fase final e deve ser lançado em breve.
Além dessa diversidade, Schaitza também aproveitou o encontro para citar algumas áreas que podem gerar novos produtos e que merecem atenção do segmento:
– Sanidade – segundo ele, o setor florestal tem um amplo conhecimento nessa área. Diversas pragas que surgiram, como a vespa-da-madeira, já estão controladas, justamente pelo trabalho em conjunto entre a iniciativa privada e os centros de pesquisa. “Somos experts nesse assunto, devemos oferecer consultoria em sanidade vegetal, montar uma indústria para isso”, citou.
– Conservação – “quando falamos que o Paraná tem x empresas florestas, x hectares de florestas, podemos transformar esses ativos em informações para trazer um reconhecimento ainda maior para o setor. Até 2050, poderíamos ter projetos interessantes para ajudar outros estados”, lembrou.
– Carbono – de acordo com o chefe-geral da Embrapa Florestas, o mundo todo está falando sobre o mercado de carbono, mas, para avançar nesse tema, é preciso haver métrica do que existe e de como isso será disponibilizado. “Pode ser um mercado financeiro, em que vamos vender crédito de carbono, ou pode ser mercado de imagem. Mas isso só vai seguir se tivermos métricas claras de como estamos hoje, de como vamos em frente na prática. Precisamos pensar na forma que nos organizaremos nesse assunto, para podermos negociar alguma coisa depois, independentemente se será no mercado formal ou no mercado voluntário. Sem isso, não vamos conseguir avançar”, afirmou.
– “Velhos” produtos – Schaitza reforçou que o setor florestal é excelente em diversas áreas, mas não pode deixar de trabalhar para melhorar ainda mais a qualidade dos “velhos” produtos. “Qualidade da madeira tem que ser o nosso foco. Melhorar um recurso leva anos, mas, com tecnologia, genética, pesquisa, podemos encurtar período”, garantiu.
– Novos produtos – o mercado florestal diversificado tem espaço para novos produtos, segundo ele. Diversos materiais têm surgido, como madeira engenheirada, química de celulose ou lignina e muito mais. Portanto, ele sugeriu que o setor aposte nesses produtos. “Um produto interessantíssimo é casca, por exemplo. Todo mundo tem casca, mas, hoje, ela é vendida apenas como energia”, salientou.
Para fechar a apresentação, Erich Schaitza afirmou que o setor florestal tem inúmeras possibilidades e que é preciso olhar para tudo isso para aproveitar as oportunidades. Além disso, ele confirmou que o aumento da demanda por madeira também vem de um potencial gerado por novos tempos. Por isso, essa discussão é bastante atual e relevante. “Precisamos pensar em expansão, em novos produtos, em tecnologia para evoluir”, concluiu.
Em seguida, foi a vez de Zaid Ahmad Nasser, presidente da APRE, falar sobre o setor florestal paranaense sob a perspectiva das empresas. Na avaliação dele, um evento como o workshop, que reúne empresários, profissionais, pesquisadores, professores e estudantes, mostra a preocupação do segmento com a qualidade. E tudo isso reflete em produtividade, melhoria de processos e aumento da oferta de produtos.
“No relatório preliminar do Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) do Paraná, vimos que o setor florestal avançou significativamente, com valorização de 41% em relação ao ano anterior. Com esse número, percebemos quão necessário e importante é o segmento florestal dentro do estado para o desenvolvimento. As empresas florestais conseguem desenvolver não somente o operacional, mas também a questão social dentro da região em que estão inseridas”, avaliou.
Com relação ao mercado, Nasser afirmou que os preços tendem a continuar crescendo nos próximos trimestres, seguindo o aumento da demanda. A diversidade de produtos do setor florestal paranaense é algo que chama a atenção, principalmente para novos investimentos. Para ele, o Paraná é destaque em desenvolvimento, e a forma como o setor dirige a cadeia produtiva faz com que ele seja atraente tanto para a indústria exportadora de produtos acabados como para os investimentos na produção florestal.
“Temos diferentes plantios, com idades de 7 a 28 anos. Essa possibilidade de diversificar traz ainda mais segurança aos fundos de investimentos. Durante os dois últimos anos, com o coronavírus, comprovamos a nossa capacidade de se adequar a qualquer tipo de crise. Conseguimos converter, reverter, manter e expandir o mercado durante a pandemia. Novos investimentos foram anunciados nos últimos meses. Investir em expansão significa que há mapeamento e segurança de que teremos disponibilidade de madeira. Então, se estamos tendo expansão, é porque a disponibilidade existe”, disse.
Para o futuro, o presidente da APRE reforçou que é preciso olhar para a bioeconomia, pois o consumidor final está cada vez mais buscando a sustentabilidade, e isso é um grande estímulo para o setor.
“São novas oportunidades. O reconhecimento mundial da sociedade, do consumidor na ponta, de que a atividade florestal é sustentável foi o que sempre buscamos, e é o que está acontecendo agora. Precisamos aproveitar esse cenário, estimular as mudanças necessárias e urgentes, começando com a substituição de produtos fósseis por produtos provenientes das florestas plantadas. Temos, ainda, o mercado de carbono, como o Erich bem lembrou. Faltam fórmulas e metodologias de como apresentar essa informação, para trazer segurança jurídica, clareza e transparência. Mas é um mercado extremamente forte em todo o mundo, e o Brasil vai ter grande destaque, convertendo em serviços ambientais. Podemos gerar crédito e colocar o país na ponta nesse assunto”, declarou.
Por fim, Zaid Ahmad Nasser reforçou que o setor florestal está em expansão, com um cenário promissor e, ao mesmo tempo, desafiador.
“Na APRE, sempre citamos que o setor é o protagonista da bioeconomia. Por isso, precisamos assumir esse protagonismo, porque sabemos que temos potencial para fazer a diferença. Um evento como o workshop Embrapa Florestas/APRE é um excelente espaço para esse debate e para que o setor possa seguir nesse caminho, tornando o estado ainda mais florestal”, completou.
O 9º Workshop é uma realização da APRE e da Embrapa Florestas, com patrocínio de Becomex, Lavoro/Florestal, Remsoft e Trimble; e apoio de Abimci, Associação Catarinense de Empresas Florestais (ACR), Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Sistema Fiep, Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná (Fupef), Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Unicentro Paraná e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Foto: Vitoria Furlan