Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), diz que o setor de florestas plantadas apresentará os planos de governo que deseja ver cumpridos
O setor produtivo cansou de sofrer com a instabilidade política do Brasil. Neste contexto, presidentes de empresas, executivos e acionistas prometem ter uma postura diferente nas eleições do próximo ano. Em vez de só ouvir propostas, eles apresentarão suas ideias para que o País entre num novo ciclo de crescimento. Abaixo, os principais trechos da entrevista.
Qual a posição do Brasil no cenário florestal mundial?
A floresta plantada do Brasil é a mais produtiva do mundo. A média é de 40 m3 de madeira por hectare/ano. Mas há players nacionais que chegam a quase 60 m3. O Brasil não tem concorrente entre os cinco maiores produtores do mundo. Na Escandinávia o inverno é rigoroso, e a produtividade é de 10 m3 de madeira por hectare/ano; nos EUA são 12 m3. O Brasil está na região tropical e tem uma alternância de sol e chuva que permite colher uma árvore com 6 a 7 anos. O Brasil saiu de quarto produtor do mundo para segundo, ultrapassando o Canadá e a China em um único ano. É o País com a maior capacidade de colocar produtos de madeira no mercado mundial. Além disso, faz muito investimento genético.
Que tipo de investimento?
Quando uma empresa investe numa nova planta, 67% do aporte vai para a base florestal: engenharia genética pesada e manejo florestal, que envolve o que fazer com o solo, como plantar uma árvore, em qual espaçamento, um arcabouço de itens que resultam na produtividade, da qual a genética é o principal item. O Brasil é avançado na engenharia de clonagem. Desenvolve clone para produzir mais, que seja resistente ao estresse hídrico. Os clones são diferentes, de acordo com a região. O clone do Maranhão não é o mesmo do Mato Grosso do Sul, que não é o mesmo do Rio Grande do Sul, que não são iguais aos da Mata Atlântica.
Várias empresas de papel e celulose investiram no Brasil…
É o País que mais atraiu investidores do mundo nos últimos 10 anos. Desde 2008, o Brasil inaugura uma nova máquina, uma nova linha de produção, a cada 24 meses. Nenhum país foi capaz de acompanhar. Cada nova fábrica bate o recorde da anterior no próprio território nacional. Ano passado, houve o lançamento da Klabin, a fábrica mais moderna do mundo, que marcou a entrada no Brasil da celulose fluff [usada para fabricação de fraldas e absorventes], até então nunca produzida no País. A Fibria está investindo no projeto Horizonte 2, uma nova linha de produção em Três Lagoas (MS). O Brasil também recebeu investimentos da CMPC e da Arauco, as duas maiores produtoras de celulose e papel do Chile.
Como as crises econômicas impactaram o Brasil?
Desde 2008, a economia mundial começou a entrar em cenários cíclicos de crise, o que encarece a produção. Quando o consumo cai, o custo pesa. Mas isso favoreceu o Brasil, porque as crises econômicas prolongadas acabaram com fábricas obsoletas, mais caras em termos de produção. Unidades foram fechadas na China, EUA, Canadá e Europa, o que abriu espaço para a celulose brasileira.
Quais são os principais destinos da celulose nacional?
“O setor florestal é o oitavo maior exportador do Brasil, com remessas de cerca de US$ 10 bilhões e faturamento de quase R$ 72 bilhões, o que o coloca entre os cinco maiores setores da economia brasileira” China, Europa Central, EUA e América do Sul. Há 8 anos, 17% das exportações brasileiras iam para a China. Hoje a porcentagem ultrapassa 40%.
Qual é a importância da indústria de papel e celulose nas exportações brasileiras?
Entre todos os exportadores, o setor é o oitavo maior do Brasil, com remessas de cerca de 10 bilhões de dólares e faturamento de quase 72 bilhões de reais, o que o coloca entre os cinco maiores setores da economia brasileira. Na parte de empregos, passamos a crise econômica sem gerar desemprego.
O mercado doméstico não sofreu com a crise?
Houve crise severa nos segmentos de painéis de madeira e de papéis, mas o setor não está entre aqueles que causaram desemprego. Cerca de 4 milhões de brasileiros, entre empregos diretos e indiretos, vivem dessa indústria.
Como o setor florestal ajudará o Brasil no cumprimento das metas assumidas na Cop-21?
A meta do Brasil é reduzir 43% da emissão de gases do efeito estufa até 2030. Cada setor tem sua participação, e 14% dos 43% serão cumpridos pela indústria florestal. O Brasil tem 62% de cobertura florestal, mas é preciso plantar mais 12 milhões de hectares de florestas para recuperar o clima. Adicionais 5 milhões de hectares serão plantados no sistema de integração lavoura, pecuária e floresta. Serão 17 milhões de hectares de florestas, e cálculos do mercado estimam um custo entre R$ 52 bilhões e 54 bilhões.
De onde virá o dinheiro?
Há créditos verdes, os green bonds, mas o mais importante mecanismo financeiro deverá ser o carbono. Quando uma indústria tem processo fóssil, ela gera um determinado impacto ambiental pelo que faz. Mas, se ela muda, gera um saldo positivo: o sequestro de carbono da atmosfera. O estoque será monetizado, valorado financeiramente. Já existem 40 regiões do mundo com mercado de carbono. Você taxa o que é fóssil e – via tributação – incentiva a migração para processos mais limpos. A ideia é que esse dinheiro vá para um fundo econômico para recuperação climática.
Quais os desafios para 2018?
O cenário futuro da exportação de celulose é positivo. No Brasil, espera-se um aumento da demanda e recuperação de empregos. Mas isso está vinculado às eleições. O setor de florestas plantadas vai ser ativo no processo eleitoral. Entendemos que está nas mãos da sociedade civil e do setor produtivo trabalhar para a recuperação do País. Temos uma clara visão de que, se o Brasil não se estabilizar politicamente, não será possível um novo ciclo produtivo como as indústrias estão dispostas a fazer. Essa eleição será diferente. Acionistas do setor todo, presidentes e executivos estão com as duas mãos nas eleições. Não vamos ouvir programas de governo; vamos entregar os programas de governo que queremos ver cumpridos. 2018 se resume a uma única coisa: eleições para se chegar ao resultado econômico necessário.
Fonte: O Estado de S. Paulo