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Simpósio reúne profissionais para mostrar os avanços da construção com madeira no Brasil e no mundo

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A Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre) e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFR) reuniram, no dia 19 setembro, mais de 130 pessoas para o 5º Simpósio Madeira & Construção, entre estudantes, arquitetos, engenheiros e profissionais ligados ao tema. Na avaliação da associação a promoção de cada uma das edições em diferentes instituições de ensino mostra o dinamismo e o interesse crescente pelo tema. “Foi um evento que atingiu os objetivos institucional e técnico, além de envolver todo o público e os palestrantes em um ambiente propício para a troca de experiências”, afirmou o gerente executivo da Apre, Ailson Loper.

Um dos painéis do evento convidou os participantes a fazer um “Olhar para o Futuro”. A analista de tendências Babi Satinsack mostrou, entre outras coisas, como serão os espaços de morar e trabalhar, a partir das macrotendências em que todas as pessoas estão inseridas: coletividade, velocidade e sustentabilidade. “As tendências são conclusões do cenário atual e somente vão durar se forem baseadas na verdade”, afirmou. De acordo com ela, é essencial “dar um passo para trás” e ver a tendência macro para trabalhar dentro disto, e não apenas “surfando na onda”.

Julio Bernardo da Silva Junior, engenheiro ambiental, também participou do encontro, apresentando as visões de teóricos de várias correntes; de governos e empresários; e de cientistas sobre a sustentabilidade. Ele comentou, ainda, sobre o conceito da casa sustentável, que deve ser pensada como um todo, e não apenas no material que será usado em sua construção, dizendo que a habitação baseada na sustentabilidade está conectada com a energia limpa e a gestão dos resíduos, por exemplo.

Outro palestrante do painel “Olhar para o Futuro” foi o engenheiro José Daniel Sato, que abordou o papel da edificação em madeira no contexto atual, salientando que esta já não é mais uma tendência, e sim uma realidade. Ele lembrou que a madeira já foi largamente usada nas construções e foi abandonada depois que apareceram outras tecnologias construtivas. Para o engenheiro, são os novos profissionais que vão ajudar no desenvolvimento desta cadeia. “Os Estados Unidos, a Europa e o Canadá estão construindo em madeira com ótimos resultados. Por que essa diferença para cá? Nós temos capacidade de fazer por aqui de maneira excepcional. Se não mudarmos a forma de agir, não vai funcionar. É necessário alavancar todo este sistema. Ao mesmo tempo, já não temos volta. A construção em madeira é irreversível. E tem um detalhe: sendo feito o manejo de forma correta, não vai faltar madeira nunca”, avaliou.

Projetos em madeira

Para trazer, ainda, conteúdo técnico para o Simpósio, a organização montou um painel que discutiu as tendências para projetos em madeira e novas tecnologias. Kastner Drewell, engenheiro civil da Immergrun, ressaltou que o primeiro passo para se projetar com madeira é conhecer o material, quais as espécies, geometria, medidas, para fazer a melhor utilização dele. Além disso, afirmou ser importante conhecer as fixações e quais os materiais disponíveis para isso. “A partir disso, define-se altura, forma e aparência da estrutura, destacando, inclusive, por onde vai entrar a iluminação, onde ficarão as instalações elétricas e hidráulicas, ponte rolante, entre outros. Por fim, é necessário  pensar nas medidas de proteção, como proteção térmica, contra calor e frio; proteção preventiva contra incêndio; proteção acústica e proteção construtiva”, explicou.

Rafael Andrade de Souza, da Construtora Ragaframe, complementou, dizendo que o ponto crucial para um projeto em madeira é ter noção da sustentação e a atuação da carga dentro da estrutura. Ele destacou também que é preciso quebrar o paradigma de trabalhar com materiais de forma isolada e apostar na combinação deles para aproveitar a melhor característica de cada um, já que nem sempre o material mais barato é o mais econômico. “Explorar o material dentro da melhor performance ajuda no desempenho da estrutura, e tudo isso traz economia para a obra”, garantiu.

A discussão trouxe, ainda, o conceito do BIM (Building Information Model), ou Modelagem da Informação da Construção, que foi apresentado pelo arquiteto Fábio Freire. O processo engloba modelagem paramétrica, interoperabilidade, colaboração e portabilidade da informação. Na opinião dele, a ferramenta proporciona melhorias no processo em todas as etapas do projeto e surge como catalisador do novo paradigma de abordagem do trabalho da indústria da Arquitetura, Engenharia e Construção ao longo de todo o ciclo de vida de um edifício, desde a fase inicial de concepção até a sua construção e manutenção.

Experiências pelo mundo

Há diversos países ao redor do mundo onde a madeira já é bastante utilizada na construção civil e faz parte da cultura. Para mostrar essas experiências, o 5º Simpósio Madeira & Construção trouxe a arquiteta e professora Janice Bernardo, que morou na Itália para fazer uma parte de seu pós-doutorado. Ela aos participantes que o país é pioneiro na certificação das edificações históricas dentro de padrões de sustentabilidade e, por lá, a utilização da madeira é bem vista tanto do ponto de vista de sustentabilidade, quanto culturalmente.

“Eles têm a tradição da madeira já nas edificações antigas, desde o passado medieval, o renascimento. Há o interesse sempre no restauro e na manutenção dessas estruturas antigas, e quando são inseridas novas estruturas, elas também vêm com uma nova tecnologia, como a madeira laminada colada, por exemplo. Há um grande avanço da arquitetura ícone do desenvolvimento dos últimos 10 anos. Um exemplo é o UniCredit Pavilion, na Praça Gae Aulenti, em Milão, que é a inserção de um produto da arquitetura contemporânea num espaço de valorização e de requalificação urbana. É uma estrutura de três pavimentos mais subsolo em madeira laminada colada”, destacou.

Da tradição do uso da madeira na Itália para um país que avança na popularização da madeira nas construções. O engenheiro e sócio-diretor da Carpinteria Estruturas de Madeira, Alan Dias, contou a experiência que teve ao conhecer o trabalho realizado no Canadá, mais especialmente na região de Vancouver, em British Columbia. Apesar de o país estar bastante avançado na construção com madeira, com inúmeras construções, há ainda o preconceito por parte da população, segundo Dias.

“O Canadá passou por um processo como o que estamos passando agora, de popularização da madeira, há 10 anos. Temos a visão de que tudo está muito avançado, mas o preconceito ainda existe por lá. A realidade só vem mudando graças aos incentivos, às instituições pró-madeira. É um processo que todos os países vão passar, porque o futuro é madeira. Outro ponto que é importante ressaltar é de que o futuro é também o da industrialização. Ou seja, quanto mais industrializado, mais rápido, mais qualidade, mais barato e mais sustentável. A madeira tem tudo isso”, garantiu.

Nessa discussão, era preciso também incluir o Brasil. Por isso, José Marcio Fernandes, diretor da Tecverde, apresentou o que vem sendo feito por aqui em sistemas construtivos com madeira. Segundo ele, a madeira é capaz de levar a construção civil para um salto de produtividade de cinco a 10 vezes. Nas construções idealizadas pela Tecverde, um empreendimento de 250 unidades tem uma redução de prazo de 21 meses para seis meses, além de redução significativa no número de pessoas na obra e nos custos.

“A Tecverde se apropria da madeira como elemento construtivo de alta performance. Para nós, ela é um elemento estrutural importante que nos permite industrializar a construção e que pode trazer eficiência. Precisamos convencer os construtores disso, e esse é o nosso desafio”, afirmou.

Empreendedorismo e marketing

A grande novidade da quinta edição do evento foram os novos conteúdos abordados, como comunicação e empreendedorismo, já que, segundo a organização, é preciso oferecer conteúdo prático para os estudantes que logo estarão no mercado de trabalho e para os jovens profissionais.

A consultora de marketing Caroline Strobel proferiu a palestra “Como Comunicar Seu Negócio”, na qual enfatizou a importância de pensar sob o ponto de vista do público-alvo e como é possível tangibilizar o projeto para quem está interessado. Ela salientou que a forma de se apresentar e de contar “quem sou eu” faz uma enorme diferença na hora de fechar o negócio, sempre com foco nas propostas claras e diferenciais bem estabelecidos.

“Para crescer seu negócio, é fundamental entender seu consumidor profundamente; seu mercado e seus concorrentes; e as melhores ferramentas de comunicação para você”, ressaltou. Por meio delas, é possível sair do conhecimento do possível cliente até a contratação, de acordo com Caroline, ainda mais em tempos de internet e redes sociais.

Marcela Milano, especialista em empreendedorismo e inovação digital, faz parte da equipe do projeto de apoio às startups do Sebrae Paraná. Ela levou um pouco deste “mundo de inovação” aos participantes do simpósio, mas fazendo uma relação com qualquer tipo de negócio.

Para isso, no lugar de repassar “dicas”, ela mostrou as principais falhas cometidas no processo de criação e maturação das startups, e que podem servir de lição. Entre elas estão “não ser atrativo para financiamentos e investidores”; “falha na expansão”; “perder o foco”; “ignorar os clientes”; “marketing pobre”; “produto sem um modelo de negócios”; “venda e custos incorretos”; “time errado”; “esbanjar dinheiro”; “produto sem necessidade no mercado”.

Uma das principais lições que ela deixou foi a seguinte: “errar rápido para errar barato”. “Não adianta insistir quando vê que aquilo não está dando certo. Isso vai consumir muito tempo e dinheiro”, comentou.

Evento

Promovido pela Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre) e a Universidade Tecnológica do Paraná (UFPR), o Simpósio contou com o apoio institucional da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Associação Catarinense de Empresas Florestais (ACR), Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Conselho Regional de Arquitetura do Paraná (CREA-PR), Embrapa Florestas, Faculdade Estácio, Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná, Grupo Interdisciplinar de Estudos da Madeira da UFSC, Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), Universidade federal de Santa Catarina (UFSC), Unicentro e Unila.