O governo do Estado assinou, nesta quarta-feira (18), um protocolo de intenções para a elaboração de um programa de construção de casas sustentáveis para pessoas em vulnerabilidade no meio rural, como famílias de baixa renda, indígenas e quilombolas. A solenidade marcou também a inauguração de uma casa construída em CLT (Cross Laminated Timber), modelo a ser utilizado no projeto. O programa está sendo estruturado com a empresa Águia Florestal, associada à APRE (Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal). A notícia foi muito comemorada pelo setor florestal e marca um avanço importante na discussão da construção com madeira no estado, uma das principais bandeiras defendidas pela APRE.
Para o diretor executivo da Associação, Ailson Loper, essa é uma conquista de todo o segmento, porque mostra a toda a população o potencial da madeira e as inúmeras possibilidades que ela traz. Ele destacou, ainda, que as florestas plantadas dão origem a inúmeros produtos sustentáveis, e atividade é toda pautada na sustentabilidade e na responsabilidade com os recursos naturais.
“Sempre citamos que esses plantios são o futuro da bioeconomia e o caminho para combater as mudanças climáticas, porque as florestas plantadas produzem um material que tem mínimo impacto ambiental por ser renovável, contribui para retenção de carbono na atmosfera, entre outros inúmeros benefícios. Quando falamos de construção sustentável, isso fica ainda mais evidente, porque as construções com madeira são construções limpas, com matérias-primas renováveis e capazes de fixar CO2 durante toda sua vida útil”, declarou.
Durante o evento de lançamento do projeto, Álvaro Luiz Scheffer, presidente da Águia Florestal, reforçou todos esse benefícios, lembrando que a madeira, quando produzida e tratada com as tecnologias certas, tem uma vida útil acima de 50 anos. Além disso, ele citou que o mundo enfrenta um momento delicado de mudanças climáticas, com diversas tragédias acontecendo, como enchentes, incêndios etc., e que o caminho para diminuir esse problema é plantar florestas.
“Quando plantamos uma árvore, nós sequestramos CO2. Mas não adianta deixar aquela árvore lá, porque, em algum momento, ela vai parar de crescer e, aí, parou
de ter a eficiência dela para sequestrar CO2. Nós temos que cortar essa madeira e convertê-la em produtos, seja destinando-a para a indústria moveleira, seja destinando para o nosso bem-estar, porque não vivemos, por exemplo, sem papel, sem móveis. Mas, aqui nesta casa, nós estamos convertendo a madeira em um produto que vai existir por mais de 50 anos. E esse é o nosso trabalho ambiental”, afirmou.
O modelo construtivo utilizado na casa inaugurada durante a solenidade é o CLT, ou Cross Laminated Timber, uma madeira colada cruzada. São duas peças de madeira coladas na vertical e uma na transversal, para dar estabilidade ao produto, conforme Scheffer explicou. A tecnologia é bastante difundida ao redor do mundo, começando na Áustria, indo para a Europa e chegando aos Estados Unidos. Trata-se de um alto padrão na construção civil habitacional.
“Dentro da proposta de descarbonização da construção, esse é o ponto alto. É o que os europeus e norte-americanos estão usando. O Brasil iniciou esse trabalho um pouco mais tarde, mas começou com muita força, na parte da construção com madeira maciça e madeira engenheirada. Hoje, grandes empresas estão trabalhando nisso, com muita tecnologia. Outro sistema bastante conhecido é o woodframe, um modelo um pouco diferente de construção, mas que também usa a madeira. Ou seja, muitas grandes empresas estão focadas no uso da madeira de floresta plantada na construção civil. E o nosso objetivo é difundir esse conhecimento para que a construção sustentável se torne mais conhecida e mais utilizada”, explicou.
De acordo com o governador do Paraná, Ratinho Junior, o programa tem como objetivo aliar o desenvolvimento social das áreas rurais do Paraná com a redução das emissões de carbono usando processos sustentáveis de construção.
“Queremos desenhar um programa de moradias rurais que seja um indutor de desenvolvimento regional. Já temos o maior programa de habitação do Brasil, desenvolvido pela Cohapar, com mais de 90 mil famílias atendidas. Agora, queremos atender famílias em vulnerabilidade na zona rural, povos indígenas e quilombolas com estas casas de madeira sustentáveis”, afirmou.
A madeira usada nas casas será oriunda de áreas da Secertaria de Estado da Agricultura (Seab) que são usadas para reflorestamento, mas que estavam subutilizadas. O material será processado para transformação em madeira engenheirada, que é própria para construções civis de manejo sustentável e baixa emissão de carbono.
Atualmente, o Paraná tem 33 mil hectares de florestas plantadas em áreas do Estado. Deste total, 16 mil hectares são de áreas plantadas de pinus, sendo que cinco mil hectares já estão concedidos a empresas. A ideia do programa é que estas companhias paguem pela concessão com a construção das casas, entre outras iniciativas.
“Nós queremos transformar parte do ativo florestal concessionado para atender comunidades carentes. São casas destinadas exclusivamente para o ambiente rural que está em desequilíbrio ambiental”, afirmou o secretário da Agricultura e Abastecimento, Natalino Avance de Souza.
Estado florestal
A cadeia da madeira no Paraná envolve um total de 1,17 milhão de hectares e representa 4,7% do Valor Bruto da Produção estadual. O Paraná ainda é responsável por 55% de toda a produção de madeira de pinus do Brasil, liderando as exportações de compensados, painéis e molduras de madeira do País.
A iniciativa faz parte de uma política pública que tem como finalidade fomentar práticas sustentáveis nas atividades florestais com foco no desenvolvimento local, principalmente em cidades com baixo Índice de Desenvolvimento Municipal (IPDM), segundo o Ipardes.
Para Benno Doetzer, diretor técnico da Seab, o projeto apresenta uma tecnologia e uma aspiração de longa data para que o componente florestal esteja cada vez mais próximo do agro e dos sistemas construtivos do estado. Segundo ele, o setor florestal tem parte importante da história do Paraná e ainda continua presente, com uma função ambiental e econômica muito grande. Doetzer disse, ainda, que as empresas do segmento florestal detêm a maior estrutura de aproveitamento da produção de madeira.
“Nós temos todo tipo possível de aproveitamento da floresta, seja em energia, em painéis, em celulose e papel e muito mais. Hoje, estamos partindo para uma nova atividade, que é a madeira engenheirada, voltando-se também para a construção civil. É a indústria mais completa do Brasil, e esse é um diferencial do estado”, reforçou.
De acordo com o diretor de Florestas Plantadas e Sustentabilidade da Seab, Breno de Menezes Campos, esse é um movimento que está marcando o departamento de florestas plantadas da Secretaria, uma apresentação de uma concepção que vem sendo construída há aproximadamente dois anos, quando a pasta teve contato com a tecnologia apresentada pela Águia Florestal.
“Hoje, estamos apresentando um modelo construtivo versátil, moderno e que nós acreditamos ser viável para ser entregue no meio rural. E é importante mencionar que o setor florestal é um setor que está extremamente alinhado às questões ambientais, um setor que produz e conserva. Praticamente para cada hectare de florestas plantadas, temos o mesmo hectare de floresta conservada. Tudo o que está sendo feito nesse manejo sustentável vem de uma produção embasada nos pilares da sustentabilidade. E esse é só um produto final de todo um processo de produção que vem alinhado ao conceito da bioeconomia”, finalizou.
Fotos: Roberto Dziura Jr/AEN