Para fomentar discussões e esclarecer mitos sobre o papel das florestas plantadas na mitigação do efeito estufa, a Embrapa Florestas levou o assunto para a 5ª Expoforest de maneira bem didática. Por meio de uma trincheira escavada no solo, com 6 metros de comprimento por 1,5 metros de largura e 1,2 metros de profundidade, em uma área demonstrativa de sistema silvipastoril (pastagem com eucalipto), os pesquisadores Marcos Rachwal e Josileia Zanatta, da Embrapa Florestas, explicaram o papel fundamental que o solo exerce como estocador de carbono, bem como na retirada de metano da atmosfera e na redução da emissão de óxido nitroso. Também mostraram a importância das florestas ao acumularem grande quantidade de carbono na biomassa florestal.
Pesquisas mais recentes realizadas pelo Projeto Saltus mostraram que o volume armazenado pelo solo é equivalente ao carbono acumulado na biomassa florestal e, por vezes, até maior. Além disso, os solos dos plantios florestais podem agir como sumidouros de metano, por meio de microrganismos presentes no solo, as bactérias metanotróficas, que consomem o metano e contribuem para a redução da concentração desse gás na atmosfera. O tipo da planta cultivada interfere na cobertura vegetal e, portanto, pode influenciar os estoques de carbono do solo, alterando o equilíbrio entre o sequestro e as taxas de perdas de carbono. “Durante o cultivo do eucalipto, o solo fica protegido contra erosão e elevação drástica de temperatura e, neste sistema, onde a espécie florestal é associada à pastagem, estão sendo absorvidos no solo sob eucalipto, valores significativos de metano por hectare/ano. E o metano é um gás que tem alto potencial de aquecimento global”, diz Rachwal.
Dentro da trincheira, foi possível ver como as raízes do eucalipto se distribuíam no solo e os visitantes puderam visualizar a grande quantidade de raízes finas e grossas produzidas pelo eucalipto, que estava com 7 anos de idade.
Profundidade de solo – “Até 1 metro de profundidade, concentra-se 50% do sistema radicular do eucalipto. De 1 a 5 metros, são encontradas 40% das raízes, e os 10% restantes ficam abaixo dos 5 m. Outra informação importante é que as raízes de eucalipto podem alcançar facilmente dois metros, auxiliando na infiltração de água e na qualidade do solo”, afirma Rachwal.
Ciclagem de nutrientes – “Além disso, quando as folhas de eucalipto caem, formando a serrapilheira, ocorre a ciclagem dos nutrientes, de modo que na linha das árvores aumenta o teor de fósforo, potássio e nitrogênio. Na serrapilheira podem ser estocados 9% do carbono presente na biomassa total”, explica Zanatta.
Biomassa florestal – ”O armazenamento de carbono na biomassa da madeira é muito significativo, podendo chegar a 99 ton/ha de carbono na biomassa total, das quais 85% está no tronco”, conta Rachwal. Outro aspecto interessante notado dentro da trincheira foi a presença de uma grande raiz pivotante, atingindo profundidade maior que 1,20 m, de um eucalipto que já havia sido colhido no ciclo anterior. “Isto ressalta o papel das raízes que, ao se decomporem, contribuem para manter ou elevar o estoque de carbono no solo”, aponta Zanatta.
Conversão para plantios – Após estudos recentes da Embrapa Florestas, um novo índice de alteração de carbono no solo vem sendo utilizado, mostrando maior potencial de mitigação dos gases de efeito estufa (GEEs) pelos plantios florestais. O índice anterior considerava muito alta a perda de carbono (33%) em solos convertidos para plantios florestais. Porém, os recentes estudos encontraram um índice que representa com mais fidelidade as especificidades do País, com redução de apenas 5% no estoque de carbono. “O fato de usar o mesmo índice adotado para a agricultura acabava por penalizar os plantios florestais, pois indicava perdas muito elevadas de carbono no solo após a retirada de vegetação nativa, pastagem ou agricultura, seguido de conversão para plantios florestais”, analisou a pesquisadora da Embrapa Josileia Zanatta, que participou do estudo. “Comprovamos que, na realidade, esse índice é de 0,95, ou seja, considera uma perda de apenas 5%, o que representa uma grande diferença”, finalizou Zanatta.
Foto: Manuela Bergamim – Embrapa Florestas