Publicação recente da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) trata da introdução de um método inovador aplicado à avaliação de impactos na dimensão Desenvolvimento Institucional (módulo Ambitec-Desenvolvimento Institucional), que integra indicadores de alterações geradas pelos projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico da Embrapa na base de conhecimentos, na capacitação e na política institucional.
Com a complementação desse módulo, a metodologia Ambitec-Agro passa a ter, como uma de suas características inovadoras, abertura para avaliação não apenas dos impactos econômicos de um projeto de pesquisa, como normalmente ocorre, mas permite igualmente a avaliação dos impactos sociais, ambientais e em termos de capacitação tecnológica decorrentes de uma pesquisa científica. Essa abordagem multidimensional de impactos traz como propósito principal a realização dos estudos que compreendem o Balanço Social da Embrapa, que neste ano de 2022 está em sua 25ª edição.
De acordo com o pesquisador Geraldo Stachetti Rodrigues, um dos autores da publicação, a natureza coletiva e complexa do processo de inovação é um princípio fundamental da busca por metodologias de avaliação mais aderentes à realidade. “Busca-se maior poder de interpretação de resultados e, acima de tudo, maior potencial de orientação das políticas públicas e institucionais”, explica o pesquisador.
A nova metodologia foi desenvolvida como um instrumental a ser utilizado por gestores, pesquisadores e analistas de instituições públicas ou organizações privadas, na sensível tarefa de avaliação de projetos e tomada de decisões. “O conjunto de critérios e indicadores de Desenvolvimento Institucional, proposto neste módulo do sistema Ambitec-Agro, representa uma oportunidade adicional para a expressão e o registro dos resultados dos projetos e das contribuições das equipes de pesquisa e de transferência de tecnologias, no âmbito das instituições dedicadas à pesquisa agropecuária”, salienta Stachetti.
A abordagem do método, descrita no Documentos 136 da Embrapa Meio Ambiente, integra as dimensões econômica, social, ambiental e de capacitação na avaliação de impactos de projetos de pesquisa, inovação e transferência de tecnologias. Para sua estruturação, procedeu-se à adaptação e ampliação da dimensão “Capacitação” do método ESAC, anteriormente desenvolvido com a equipe do Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (Geopi,) do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências da Unicamp, como parte do projeto Políticas Públicas para a Inovação Tecnológica na Agricultura do Estado de São Paulo, proposto no Programa de Políticas Públicas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Stachetti destaca que a experiência adquirida durante a participação junto ao Geopi/Unicamp no desenvolvimento da metodologia ESAC foi fundamental para a construção da avaliação dos impactos da pesquisa sobre o desenvolvimento institucional na Embrapa. “O método ESAC consiste na mensuração ex-post da intensidade das transformações que um determinado programa de pesquisa e suas consequentes inovações desencadeiam em certos atores sociais”, informa ele.
Deste modo, na publicação, a partir de uma revisão de literatura, com aprimoramento do processo de avaliação dos impactos no conhecimento, capacitação e político-institucional, os autores construíram uma tipologia das diferentes capacitações que podem ser geradas por projetos de P&D.
Esta tipologia envolve desde a capacidade relacional entre pesquisadores e parceiros em redes interinstitucionais; a capacidade científico-tecnológica, de infraestrutura e recursos operacionais; a capacidade organizacional para experimentos, eventos, treinamentos; bem como a capacidade de gerar produtos científicos e tecnológicos, como publicações, teses, registros e patentes, variedades vegetais e linhagens animais, até marcos regulatórios em apoio a políticas públicas.
Esse conjunto de tipos de contribuições dos projetos de pesquisa foi elaborado com critérios, subcritérios, e assim por diante, mostrando como cada capacitação pode ser desdobrada até seus elementos constituintes básicos, os quais são utilizados como indicadores da criação, do aumento ou da diminuição de capacidades institucionais.
“Durante um projeto de P&D, são criados tanto conhecimentos tácitos quanto codificados. Os primeiros são responsáveis pela formação de capacitações e competências, que se encontram incorporadas nas pessoas e, portanto, numa forma intangível. Já os segundos são expressos na forma de produtos e resultados tangíveis, como artefatos, protótipos, artigos, patentes, e outros”, explica Stachetti.
Visando à agregação de critérios e indicadores de impacto verificáveis para esta dimensão institucional, quatro aspectos foram então propostos dentro da metodologia, relativos à Capacidade Relacional, à Capacidade Científico-Tecnológica, à Capacidade Organizacional e aos Produtos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).
Práticas e processos de avaliação de eficiência e desempenho têm sido continuamente concebidos, aperfeiçoados e implementados na Embrapa, envolvendo sistemas sofisticados de acompanhamento, que integram desde a captação de demandas e a elaboração dos projetos de pesquisa nas Unidades e laboratórios, até a organização da programação e a transferência dos resultados, no alcance institucional e para o setor agropecuário, beneficiário imediato, adotante e usuário das tecnologias, e promotor da inovação produtiva no meio rural e agroindustrial.
“O uso de métodos capazes de avaliar impactos sobre o conhecimento gerado nos centros de pesquisa proporciona resultados que permitem aferir a medida na qual a pesquisa está tomando a direção desejada, se está cumprindo seu papel na promoção do bem-estar social, ou no desenvolvimento de insumos para novos avanços tecnológicos. Em muitos casos, os resultados obtidos a partir de avaliações de impactos sobre o conhecimento e o desenvolvimento institucional podem servir de base, inclusive, para a formulação e orientação de políticas públicas de amplo alcance no setor agropecuário”, salienta o pesquisador.
Trabalho em rede
O projeto ‘Políticas Públicas para a Inovação Tecnológica na Agricultura do Estado de São Paulo’ (2003), coordenado pelo Geopi/DPCT/Unicamp e que originou a metodologia ESAC, teve a sua execução em um trabalho em rede, integrando várias instituições parceiras, como o Instituto Agronômico (IAC), a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, a Embrapa, o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), o Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC-RJ) e o Bureau d´Economie Théorique et Appliquée (Beta), ligado à Universidade de Estrasburgo (França).
A publicação “Avaliação de impactos de tecnologias agropecuárias na Embrapa: dimensão Desenvolvimento Institucional”, de autoria das analistas da Embrapa Graciela Luzia Vedovoto, Daniela Vieira Marques, da professora Luiza Carneiro Mareti Valente da Universidade Federal Fluminense e do pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Geraldo Stachetti Rodrigues, está disponível aqui para download gratuito.